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Flip 2014

Bonitinhas, mas extraordinárias

O jornalista, escritor e 'conselheiro de mulheres' Xico Sá lança hoje na festa de Paraty livro com coletânea de crônicas de 'devoção escancarada' a 127 fêmeas

ROBERTO DE OLIVEIRA ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Cabra safadinho, Francisco Reginaldo de Sá Menezes descobriu cedo os segredos das mulheres. No sopé da chapada do Araripe, no Crato (CE), a casa de sua mãe era frequentemente transformada em local de terapia. Vizinhas corriam lá para desabafar com Maria do Socorro, matriarca cheia de ideias contra a fragilidade feminina.

No café da tarde, o menino pegava sua caneca e se debruçava no parapeito da janela, fazendo cara de paisagem. Espreitava a conversa dos adultos e se entretinha a ouvir histórias sobre as dores e os amores das fêmeas.

Aos 12, dominava a teoria, mas faltava a vivência. Pelas mãos do tio boêmio, passou a frequentar o circuito das quengas. Cinco anos após perder a virgindade, já tinha descoberto o que era uma mulher extraordinária.

A experiência deu-se na pensão onde morou nos tempos da faculdade, no Recife. Na esquina da rua do Progresso com a das Ninfas, ele, aos 17, conheceria uma mulher de corpo esguio e mais de 50. Intermináveis foram as noites nos quatro anos em que passou ao lado de Marileide, sua "Lolita às avessas". Não se tratava só de sexo para "derrubar a hospedaria", mas, sim, de um amor que desbaratou a adolescência.

Nas conversas de alcova, Marileide também lhe apresentou autores. O rapaz se encantou por Gustave Flaubert e sua Madame Bovary.

Em 2011, ele pensou em fazer um livro baseado nas mulheres da vida real e nos desejos que despertam. Achou nos desvãos da memória, para além da voz de comando da mãe, as noitadas em puteiros e a experiência do primeiro amor. Assim o jornalista, escritor e colunista desta Folha Xico Sá, 51, atravessou os últimos três anos.

No boteco de Ipanema, no show do Baixo Augusta, na TV ligada em "Avenida Brasil" ou na empoeirada "Playboy" --"revista que construiu parte da nossa mitologia do desejo"--, tudo se transformava em lenha para manter acesa a fogueira do tesão.

Dessa "elucubração masturbatória" resultaram 265 páginas de "O Livro das Mulheres Extraordinárias", 31º lançamento do selo Três Estrelas, do Grupo Folha, que é lançado nesta quinta (31) na Flip.

Na maratona de mais de mil dias conduzido pelo "voyeurismo", o velho Xico voltou a se debruçar na janela. Desta vez, no apê de Copacabana, no Rio, onde mora, para matutar sobre a vida, a obra e, é claro, a gostosura de pouco mais de cem beldades.

Mulheres do teatro, da música, da literatura, da TV, da moda... Para cada uma das 127 eleitas ele teceu um texto inédito, mix de perfil, crônica poética e elogio amoroso. A obra é sobretudo, a "crônica da devoção escancarada".

A seleção satisfaz fantasias das mais variadas espécies de bicho-homem. A eterna "Gabriela" de Jorge Amado, Sônia Braga, foi a primeira que pintou na cabeça dele na hora de escalar o "dream team".

Entre as clássicas surgem Betty Faria, "pegaria com 90 anos", Cláudia Ohana, "a musa da mais bela e virgem mata tropical", Luiza Brunet, "tesão nada nostálgico", Vera Fischer, "o impacto europeizante que chacoalhou a morenidade", e Lucélia Santos, "flagrada no ônibus".

Das "moderninhas", Camila Pitanga é "a sagração da mestiçagem", Deborah Secco é a "gostosa retumbante, com sangue nos olhos e cheia de exclamações, como manchete de jornais antigos".

Na vez de Bárbara Paz, ele não economiza fantasias: "Ela e eu deliramos no taco, no conjugado de Copacabana, sempre na linha Último Tango em Paris'"; a funkeira fluminense MC Pocahontas, por sua vez, é inspiração: "Um trato de bobes no cabeleireiro, luxo e riqueza para as massas, baby"; a modelo Lea T, ele sintetiza: "O belo e cirúrgico drible nos gêneros".

A escolha seguiu o critério da comoção, "do tesão que deveras sinto", disse Xico.

Foram dias e noites movidos pela obsessão da observação, rondando ruas, festas, shows, bares. No apê, dividia as sensações com um caderninho surrado. Seus olhos perseguiam todas as ideias de beleza, da mais cheinha à do nariz grande, e esbarravam na vizinha. "Se você se esquecer de que são mulheres famosas, vai perceber que estão lá todas as brasileiras."

É evidente que não faltou malícia: "O poder da safadeza vai além do corpo e do repertório. É o grande poder".

O "repórter investigativo do amor" buscou inspiração num dedo de prosa de João de Minas, pediu bênção a Vinicius de Moraes, leu e releu ensaios de Gilberto Freyre. Talvez passem despercebidas essas referências, mas não a de dona Maria do Socorro, prestes a completar 75 anos: foi, afinal, a mãe que ajudou a fazer de Francisco o Xico, conselheiro de mulheres.


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