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Cinema quadrado

Em 'O Homem das Multidões', personagens solitários ganham vida em cenas filmadas no formato de tela de celulares

NATÁLIA ALBERTONI DE SÃO PAULO

"O Homem das Multidões", de Cao Guimarães e Marcelo Gomes, que estreou nos cinemas na semana passada, mostra o cotidiano de dois funcionários do metrô.

Juvenal (Paulo André) é o maquinista que está sempre sozinho, mesmo quando cercado de gente. Margô (Silvia Lourenço), controladora de uma estação de metrô em Belo Horizonte, experimenta a mesma sensação, mas protegida por telas de computadores e celulares.

O espectador segue a vida dos dois solitários como se estivesse acompanhando a narrativa pela tela de seu smartphone com filtros do Instagram (rede social de fotos e vídeos). O formato quadrado do filme, que ocupa cerca de um terço da tela do cinema, contribui para essa sensação.

Gomes, que dirigiu "Cinema, Aspirinas e Urubus" e "Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo", é conhecido por fazer filmes que não seguem esquemas narrativos habituais, com espaço para experimentação.

No caso de "O Homem das Multidões", o diretor afirma que a semelhança entre a linguagem do longa e a compartilhada por celulares não foi premeditada.

A configuração, segundo ele, foi pensada para construir um quadro claustrofóbico, que combinasse com o sentimento dos personagens. O que de fato acontece. Não são poucos os momentos de incômodo na poltrona ao longo dos 95 minutos.

Para criar o efeito, os diretores usaram máscara sobre a câmera (16:9, com formato retangular). Por isso, em algumas cenas o protagonista sai de quadro e provoca o imaginário do espectador.

Guimarães diz que a imagem ecoa o início da história do cinema, com imagens quadradas. "Os quadros se tornaram retangulares por uma imposição da indústria", afirma o diretor.

"A maioria dos cineastas não usa o quadro como linguagem. É bacana trabalhar com alguém que vem das artes plásticas como o Cao, porque há mais liberdade. Mas é necessária uma razão conceitual, senão vira um maneirismo qualquer", diz Gomes.

O formato quadrado também foi usado pelo cineasta canadense Xavier Dolan no filme "Mommy", que venceu o prêmio do júri no festival de Cannes de 2014.

SOLIDÃO

"O Homem das Multidões" se soma aos documentários "A Alma do Osso" e "Andarilho", de Guimarães, completando uma trilogia do diretor sobre a solidão. Apesar disso, ele diz não ser obcecado pelo tema.

"Eu queria esvaziar essa concepção negativa da solidão, porque ela não é simplesmente um mal. Estive sozinho em grandes momentos da minha vida. Foram muito importantes para eu me reinventar", diz Guimarães.

A história de Juvenal e Margô se desenrola, lentamente e com poucos diálogos, em Belo Horizonte, mas poderia estar ambientada em qualquer metrópole. Inspirada no conto "O Homem da Multidão", do americano Edgar Allan Poe (1809-49), é uma constatação do isolamento no mundo contemporâneo

"Um personagem vive a solidão cercada de corpos, e o outro vive a solidão de almas", diz Gomes.

Antes de estrear nos cinemas brasileiros, "O Homem das Multidões" foi exibido em Berlim, Miami, Nova York, Guadalajara, Buenos Aires, Copenhague, Seul, Barcelona, Lima e Estocolmo, além de Toulouse, na França onde ganhou, no início deste ano, o Grand Prix Coup de Coeur do 26º Festival de Cinema Latino-Americano.


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