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Nova curadora quer levar prêmio Jabuti para a 'boca do povo'
Para a escritora Marisa Lajolo, premiação tem de ser 'mais duradoura' e funcionar como estímulo à leitura
Grande número de categorias e pouco dinheiro distribuído aos vencedores são motivos recorrentes de críticas
O quelônio mais famoso do meio editorial brasileiro quer acelerar seu característico passo de tartaruga.
Mais tradicional prêmio literário do país, o Jabuti chega a sua 56ª edição com curadoria nova, disposta a reforçar a marca entre autores, livreiros e leitores.
"Queremos gerar debates, provocar barulho. A literatura precisa virar mídia, precisa estar na boca do povo. As polêmicas ajudam nisso", conta a curadora Marisa Lajolo.
No dia 17 de setembro, o prêmio anuncia seus finalistas. O resultado final deve ser divulgado em novembro.
Professora de literatura brasileira no Mackenzie, pesquisadora de Monteiro Lobato e autora de obras infantojuvenis, Lajolo assumiu o comando do prêmio em abril, após 23 anos de gestão do antigo curador, José Luiz Goldfarb.
A nomeação agradou a escritores e ao mercado. Nos bastidores, comenta-se que a gestão de Goldfarb ficou desgastada após recentes embates envolvendo o Jabuti.
Embora neste ano não haja mudanças no regulamento, Lajolo faz planos para "sacudir" o quelônio. A principal delas é fortalecer a repercussão no mercado.
"O Jabuti dá muita mídia no dia da cerimônia, mas depois morre o assunto. Queria torná-lo mais duradouro, um estímulo frequente à leitura. É preciso que, ao longo do ano, ele atraia a atenção dos leitores e dos livreiros."
Para isso, a curadoria pretende criar selos especiais para os livros vencedores estamparem nas capas. Outra ideia é organizar eventos e cursos a partir dos ganhadores.
O Jabuti foi criado em 1958 pela CBL (Câmara Brasileira do Livro, que reúne editoras, livrarias e distribuidoras).
O inusitado nome é uma referência às fábulas de Monteiro Lobato, nas quais o jabuti é um animalzinho vagaroso, mas obstinado, cheio de tenacidade para vencer obstáculos. Para os dirigentes da CBL, era a imagem perfeita para um prêmio literário no Brasil.
CATEGORIAS DEMAIS?
Mais agilidade, por sinal, é um pedido frequente feito por editores e autores. O Jabuti tem hoje 27 categorias, de romance e poesia a gastronomia e direito. Cada categoria tem três vencedores. Como os três costumam subir ao palco para pegar seu troféu, a cerimônia de premiação costuma estender-se por quase três horas.
"A cerimônia é chatíssima, exceto para quem ganha", reconhece Lajolo. "Por outro lado, essa diversidade de categorias é muito interessante, é um reflexo da complexidade da indústria. Livro também é mercadoria."
O antigo curador, Goldfarb, diz que tentou inúmeras vezes, em vão, cortar algumas categorias."Acho que divulgar de uma só vez tantos vencedores dilui a importância do Jabuti. Mas o prêmio é do mercado, eles querem se ver representados."
Na última década, o Jabuti ganhou concorrentes de peso que distribuem muito mais dinheiro. O valor máximo do prêmio da CBL é R$ 35 mil, contra R$ 200 mil do Prêmio São Paulo de Literatura e R$ 100 mil do Portugal Telecom.
O grande número de vencedores do Jabuti é o principal empecilho para o aumento dos valores.
Nenhum prêmio no Brasil tem impacto de peso nas vendas de livros. São importantes para conferir prestígio. O Jabuti, mesmo com os desgastes recentes, ainda é considerado o mais relevante.
Milton Hatoum conta que sua carreira foi alavancada ao ganhar o Jabuti por seu primeiro romance, "Relato de um Certo Oriente", em 1990. "Foi muito divulgado pela imprensa e ajudou também a ser traduzido em várias línguas."
Em comum, escritores, editores e críticos avaliam que a nova curadoria deveria reforçar a qualificação do júri e a transparência das regras.
"No Brasil, o circuito de premiações gira em torno de poucos agentes culturais; há pouca transparência; os critérios de avaliação das obras são pouco debatidos, nem sempre com júris expressivos ou respeitados publicamente", afirma o professor e crítico literário Alcir Pécora.