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Crítica - Drama

Com 'Killer Joe', Bortolotto leva realismo americano dos anos 90 ao Baixo Augusta

GUSTAVO FIORATTI COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Cenas realistas de violência, no teatro, são facas de dois gumes: sem os recursos de edição do cinema, crescem as chances de os resultados soarem falseados.

"Killer Joe", texto de Tracy Letts com direção de Mário Bortolotto, usa o gume certo da faca. E não são apenas as impactantes cenas de violência que tornam este um espetáculo afiado do início ao fim.

O texto foi escrito em 1993, por um americano. Tem, portanto, como berço, um país que se notabilizou pela excelência em fazer montagens realistas, numa época em que o realismo em si, é verdade, estava datado.

No teatro europeu e no russo, o realismo teve sua época de ouro na passagem do século 19 para o 20. Nos anos 1990, representava a velharia comercial a ser combatida por cenários imbuídos da ideia do novo.

A encenação de "Killer Joe", agora, faz contrapeso a esse escopo ao cair nas mãos de um diretor brasileiro marginal, de obra irregular, mas que em sua extensão é comprometida com um mesmo valor estético, que gira em torno de tipos delinquentes e relações movidas a interesses mesquinhos.

A peça sobre membros de uma família que se juntam para elaborar um assassinato e contratam um matador profissional, revista sob o vértice do circuito punk do Baixo Augusta, faz levantar a questão: o que é ou o que foi o realismo senão um título também maldito?

A revisão de Bortolotto faz uma aproximação com o universo da animação. A violência de Tom & Jerry, Papa Léguas e outros desenhos antigos, que são referidos no espetáculo pela presença de uma televisão quase sempre ligada, reestrutura o jogo forma-conteúdo sob o prisma do pop.

O elenco, afiado, segue interpretação que não nega estereótipos, estuda-os.

Verdade que o cinema de Tarantino já foi longe com a mesma proposta. Mas o teatro paulista, que passou por uma fase erudita produtiva na última década, tem a ganhar com reaproximações do gênero.

Com "Killer Joe", Bortolotto traz uma chave. Não busca um novo modelo, mas a possibilidade de resgatar modelos para um cenário plural.


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