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Depoimento Marcos Caruso

'Antônio Ermírio entrou no teatro pelos fundos'

Dramaturgo e ator paulista ajudou a iniciar empreitada teatral do empresário morto no último domingo (24) aos 86

DE SÃO PAULO

Quando o dramaturgo e ator Marcos Caruso recebeu um convite para almoçar com Antônio Ermírio de Moraes (1928-2014), ele não entendeu nada.

O ano era 1994, e do encontro saiu a parceria que resultou na primeira peça do presidente de honra da Votorantim. "Brasil S.A." estreou dois anos depois, dirigida por Caruso. Moraes ainda escreveu outras duas peças, "S.O.S Brasil" (1999) e "Acorda Brasil" (2006).

Caruso conta à Folha como foi trabalhar com o homem "do cimento", que era também "do teatro". (IARA BIDERMAN)

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"Eu só tinha estado com Antônio Ermírio uma vez, em 1986, quando estava em cartaz com "Sua Excelência, o Candidato". Ele concorria ao Governo do Estado, foi ver a peça, tiramos fotos juntos, mas não passou disso. Em 1994, um assessor dele me ligou para marcar um almoço.

Combinamos no restaurante Ca'd'Oro, onde ele almoçava todas as sextas-feiras, às 12h15 em ponto. Ele me contou que tinha escrito uma peça e queria que eu dirigisse.

Pedi para ler a peça antes de aceitar. Tinha algumas situações boas, personagens, conflitos, mas parecia mais uma palestra para a Fiesp.

Marquei outro almoço, sexta-feira, às 12h15, no Ca'd'Oro. Eu lhe disse que, se eu fabricasse cimento em meu quintal e quisesse construir uma ponte, procuraria o sr. Antônio Ermírio para saber a fórmula. E eu poderia ensinar a fórmula para o sr. Antônio fazer uma peça. Ele me perguntou de onde começaríamos.

Começamos a nos encontrar, eu fazia ele escrever cenas. Não escrevi uma linha, fui só o provocador. Ele queria me pagar pelos encontros, como se fossem aulas, mas eu disse que não cobraria nada. Combinei de receber pela montagem, como diretor. Ficamos seis meses trabalhando e saiu a peça "Brasil S.A.".

Quando começamos a montagem, ele queria alugar um teatro inteiro para ensaiar, comprar os móveis do cenário. Eu disse que não era assim que funcionava, a gente alugava sala (geralmente um pulgueiro), fazia permuta para o cenário. Queria que Antônio Ermírio entrasse no teatro pela porta dos fundos.

Ele entrou no espírito da coisa e se encantou de tal maneira que um dia cheguei ao ensaio e ele estava agachado, com fita crepe na mão, para fazer as marcações do palco.

Na estreia, dei um beijo no Antônio Ermírio em cena, diante de uma plateia que era o PIB nacional. Falei que era o batismo dele no teatro.

A partir daí convivemos de quinta a domingo, ele ia todas as noites ao teatro. Mudou sua rotina. Acordava às 5h, mas ficava até o fim da peça e saía para jantar com o elenco.

Ele foi um homem que ajudou o teatro como um todo.

Quando o teatro Ruth Escobar correu o risco de fechar por não ter elevador para cadeirantes. Antônio Ermírio deu o elevador de presente. Quando o teatro Maria Della Costa estava correndo risco de pegar fogo, ele armou uma reunião e juntou o Maluf, o Mário Covas e o Fernando Henrique Cardoso, e o problema foi resolvido.

Tenho orgulho de ter sido escolhido para trabalhar com ele. Perguntei-lhe por que eu, e ele disse que tinha feito pesquisas --era um homem de estatísticas-- e viu que eu tinha quatro peças em cartaz, em uma delas eu atuava e, ao mesmo tempo, estava dirigindo a Beatriz Segall e a Dercy Gonçalves. Ele deve ter pensado esse cara é como eu, faz 50 coisas ao mesmo tempo'."


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