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Seis peças depois, Zé Celso vai dar folga para 'Cacilda'

'Odisseia' permitiu grandes atuações, de Bete Coelho a Sylvia Prado; 'Cacilda!!!!!' sai de cartaz no domingo

O MELHOR DA SÉRIE APARECE QUANDO O DIRETOR ZÉ CELSO ROMPE COM A LINEARIDADE HISTÓRICA DO TEATRO BRASILEIRO MODERNO, COMO EM 'WALMOR & CACILDA 64'

NELSON DE SÁ DE SÃO PAULO

Cacilda Becker não era a atriz preferida de Zé Celso, nos anos 50 e 60. Ele gostava de Maria Della Costa, ex-modelo, mas engajada, pioneira de Brecht no país. Cacilda, como peça, foi imaginada por seu irmão, o também diretor Luís Antônio Martinez Corrêa, assassinado em 1987.

Em 1990, Zé Celso decidiu fazer "Cacilda" em memória do irmão e como história do teatro moderno. Ele e Marcelo Drummond escreveram naquele ano as quase mil páginas da "odisseia", a partir de entrevistas e documentos.

"Cacilda!" só foi estrear em 1998, reunindo o primeiro texto, que vai da infância aos passos iniciais de Cacilda no palco, com o último, que vai de "Esperando Godot", de Beckett, última peça da atriz, até sua morte depois de sofrer um aneurisma em cena.

É uma das grandes encenações do Oficina, com Bete Coelho, Giulia Gam e depois Leona Cavalli no papel-título. Cenas como a decapitação da atriz, quando ela se deixa virar do avesso, e do rompimento da veia no cérebro, com um fio de sangue cruzando o teatro, são antológicas.

Foi preciso uma década para o Oficina retomar o projeto, com "Estrela Brazyleira a Vagar - Cacilda!!". Cronologicamente, seguiu com o início profissional da atriz no Rio, nos anos 40, aprendendo com Bibi Ferreira e outros. Com protagonista também iniciante, Ana Guilhermina, arrastado por seis horas, não foi dos mais bem-sucedidos.

A recuperação veio após mais quatro anos, com "Cacilda!!! Glória no TBC e 68 Aqui e Agora", que retratava o auge da atriz no Teatro Brasileiro de Comédia nos anos 50, mas saltava inesperadamente para suas ações contra a ditadura, nos 60 --e refletiu assim, com impacto, os protestos de junho de 2013.

"Cacilda!!!! A Fábrica de Cinema e Teatro", no final do ano passado, voltou à cronologia e à duração exagerada, cinco horas e meia. E foi o espetáculo em que Camila Mota se revelou uma atriz plena, arrebatadora, incorporando Cacilda como poucas vezes se viu em toda a "odisseia".

Mas o melhor da série de montagens aparece mesmo quando Zé Celso rompe com a linearidade histórica --como aconteceu na primeira, na terceira e por fim na quinta, "Walmor y Cacilda 64 "" Robogolpe", que foi escrita completamente fora da ordem e sem as exclamações.

É um "entreato" para marcar os 50 anos do golpe de 1964, concentrando-se no ator Walmor Chagas, marido de Cacilda e brizolista como Zé Celso. Ele é vivido por Marcelo Drummond, que abre o espetáculo com uma interpretação emocionante da carta-testamento de Getúlio Vargas.

A sexta encenação, "Cacilda!!!!! A Rainha Decapitada", retorna aos trilhos cronológicos, com a ruptura da atriz com o TBC e o diretor Adolfo Celi. Somando quase quatro horas e misturando peças feitas pela atriz com sua própria biografia, vale sobretudo pela atuação de Sylvia Prado, incorporando Cacilda nas cenas tiradas de "Antígona".

Ainda falta levar ao palco cerca de um terço do projeto original, de duas décadas atrás, mas Zé Celso, 77, avisa que vai parar com Cacilda novamente, por alguns anos, para dedicar o tempo a montar Oswald de Andrade, Nelson Rodrigues, Shakespeare e outras que aparecerem.


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