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Crítica - Documentário
Longa revela audácia política de Henry Sobel
Em filme sobre a vida de rabino americano radicado no Brasil, diretor explora demais episódio de roubo de gravatas
Quando Vladimir Herzog foi assassinado, em 25 de outubro de 1975, o jovem rabino Henry Sobel não engoliu a versão oficial da ditadura.
Enfrentando pressões, ele realizou o enterro do jornalista no centro do cemitério, se recusando a aceitar a alegação de suicídio --o que, segundo a religião judaica, o levaria a fazer o sepultamento nas margens do lugar.
Dias depois, Sobel liderou, junto com d. Paulo Evaristo Arns, então arcebispo de São Paulo, e Jaime Wright, pastor presbiteriano, o célebre ato ecumênico em homenagem a Herzog. A catedral da Sé ficou lotada e uma multidão tomou conta da praça, num silencioso e contundente protesto contra a ditadura.
Seria um marco importante na luta pelos direitos humanos e na retomada dos protestos contra o governo que impunha a tortura, a censura e o arrocho. O papel corajoso do rabino nessa fase tenebrosa da história brasileira é um dos destaques do documentário "A História do Homem Henry Sobel".
Dirigido por André Bushatsky, o longa entrevista o rabino, sua filha, integrantes de destaque da comunidade judaica e personalidades públicas. Desse mosaico de depoimentos surge um líder ousado, carismático, preocupado com a paz.
GRAVATAS
Todo esse desenho entra em turbulência com o conhecido episódio das gravatas --quando, em 2007, o rabino foi detido por causa do furto numa loja nos EUA. Seu mundo desabou. "Trinta e sete anos e puf! Fiz o impensável", desabafa ele, trêmulo, no filme.
Sofrendo de depressão e confuso com a medicação, o rabino encarou o precipício: foi afastado da direção da Congregação Israelita Paulista e passou a ser execrado e ridicularizado. Segundo um depoimento, setores conservadores do judaísmo, sempre insatisfeitos com a atuação aguerrida de Sobel, aproveitaram o episódio para tirá-lo de cena.
Talvez por conta de seu histórico ligado à publicidade, o diretor gasta bom tempo com o espetaculoso caso das gravatas. Um olhar mais profundo sobre a condição de saúde do rabino, hoje com 70 anos, poderia ajudar a desmanchar preconceitos e ceifar sensacionalismos.
O cineasta tenta buscar esse caminho, mas sem radicalidade. Uma maior exposição sobre as ideias políticas de Sobel --para além de algumas generalidades mostradas-- poderia compor um panorama mais denso.
Seguindo um roteiro tradicional, por vezes cansativo, o diretor navega com cautela. Mesmo assim, o filme ajuda a revelar um personagem audacioso na história recente do Brasil.