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Banda apresenta em SP versões em finlandês de clássicos da MPB
Em 1ª turnê pelo país, nórdicos do Maria Gasolina exibem adaptações de João Gilberto a axé
Líder do grupo começou traduções para poder mostrar a amigos canções aprendidas durante intercâmbio
O ritmo soa como um velho conhecido, mas, da letra, não se entende absolutamente nada. Ao ouvir "Kadulla, Sateessa Tai Landella", logo se reconhece a melodia de "Na Rua, na Chuva, na Fazenda". O idioma cantado, no entanto, é... finlandês.
A composição de Hyldon, popularizada pelo Kid Abelha, quem diria, é também hit no país nórdico graças a essa versão do grupo Maria Gasolina. Apesar do nome, todos os membros --quem diria, de novo--, são de Helsinque.
A banda, que cria por lá versões de música brasileira há quase 15 anos e já lançou três discos, faz agora sua primeira turnê pelo Brasil.
Os shows têm participação do rapper Paleface, também finlandês. Nesta terça (14) e nesta quarta (15), tocam em São Paulo. Na quinta, voltam ao Rio, onde já se apresentaram na última semana.
A turnê já passou também, no domingo, por São José dos Campos (SP), cidade onde toda a história nasceu. A vocalista e trompetista Lissu Lehtimaja, 37, fez um intercâmbio em São José aos 17 anos.
Ao voltar para a Finlândia, começou a fazer traduções para mostrar aos amigos. "Pirei especialmente na música do Brasil dos anos 70, no tropicalismo. Fiquei muito impressionada com o significado político das músicas, principalmente com as letras do Caetano", conta Lissu à Folha, em bom português.
"Só que mostrava para os meus amigos e eles diziam é legalzinho', porque não entendiam as letras. Mas era tudo demais, não podia ser só legalzinho', então resolvi traduzir e, mais tarde, virou uma banda de verdade", ri.
Hoje completam o grupo Taneli Bruun e Essi Pelkonen (saxofones), Kalle Jokinen (guitarra), Mikko Neimo (bateria), Matti Pekonen (baixo), Janne Auvinen (percussão) e Sanni Verkasalo (flauta).
CHICO BUARQUE PUNK
Além da versão de "Na Rua, na Chuva, na Fazenda", a Maria Gasolina tem entre seus principais sucessos uma adaptação de "Saudade Fez um Samba", célebre na gravação de João Gilberto.
Desta vez, porém, é mais difícil reconhecer a melodia nos primeiros segundos. "Fizemos uma versão drum n' bass, um som mais contemporâneo", explica Lissu.
Mas a surpresa mesmo, diz ela, é a mudança radical feita em "Apesar de Você", de Chico Buarque, que virou punk rock. O som pesado, porém, não dura muito no show, que tem também momentos de axé. O nome do grupo, aliás, foi inspirado em "Carro Velho", da Banda Eva.
Além de músicas brasileiras, o repertório tem hoje em dia também versões de canções de países como Haiti, Madagascar, Irã e Turquia.
"Sempre procuro pessoas que falem bem as línguas para me ajudar a traduzir. Quero que as letras mantenham o sentido original", ressalta.