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Livros
Livro apresenta história da Folha, do nº 1 ao digital
Obra mostra como o jornal se relacionou com a trajetória do país
Fruto de dois anos de trabalho de jornalista, publicação reúne dados históricos, reflexão crítica e curiosidades
Os temas do jornal daquele 19 de fevereiro de 1921 não eram em essência muito distintos dos de hoje.
Em São Paulo, havia violência urbana, shows, futebol. O veículo de placa 2256 do sr. Salles Penteado havia sido furtado, os intrépidos Os Oito Batutas, de Pixinguinha, se apresentariam naquela noite, a Associação Estrela de Ouro conquistara o campeonato municipal de futebol.
O jornal em si, este sim, mudou bastante, ao longo dos 33.500 dias que nos separam de sua edição inicial. E é para contar esta história que a jornalista Ana Estela de Sousa Pinto escreveu o livro "Folha Explica a Folha" (Publifolha), que será lançado na semana que vem.
O 86º título da coleção Folha Explica narra como o acanhado vespertino "Folha da Noite", lançado há 91 anos, veio a se transformar no maior jornal do país.
Não se trata de um sisudo volume de historiografia empresarial. Como em qualquer narrativa do gênero, há espaço para troca de proprietários, expansões e retrações em investimentos, mudanças de sede. Mas aqui estes movimentos acompanham alguns dos momentos mais turbulentos da história do país.
Em 1930, com a ascensão de Getúlio Vargas: "Os manifestantes destruíram rotativas e linotipos, desmembraram móveis para alimentar a fogueira que consumia os destroços do jornal no meio da rua e desenrolaram bobinas de papel que formavam um tapete branco até a Praça da Sé".
Fruto de dois anos de pesquisas, o livro traz fatos que não apareciam em outros projetos sobre o jornal, a começar pelo início da empresa.
"Não se sabia que em sua primeira semana o jornal funcionou numa sala emprestada pelo depois concorrente 'O Estado de S. Paulo'", diz Ana Estela, que começou a trabalhar na Folha em 1988 e é hoje editora de "Mercado".
Apenas para apurar um episódio controverso, o de que carros do jornal "Folha da Tarde", da empresa, teriam sido cedidos para órgãos da repressão, durante o regime militar, a autora investiu quatro meses de pesquisa. "Li centenas de fichas nos arquivos do Deops (Departamento de Ordem Política e Social) e localizei um militante de esquerda que incendiou uma caminhonete da Folha em 1971. Não encontrei prova que confirme a colaboração."
ESTRUTURA DO LIVRO
A autora estruturou o livro em seis blocos. O primeiro, que toma metade do volume, é voltado para a história do jornal, que em 1960 unificou, sob o título "Folha de S.Paulo", suas três publicações: "Folha da Noite", "Folha da Tarde" e "Folha da Manhã".
A segunda parte descreve quem foram os proprietários da empresa, criada pelos jornalistas Olívio Olavo de Olival Costa e Pedro Cunha. O terceiro segmento aborda a linha editorial da Folha.
O quarto capítulo mapeia o perfil do leitorado e o quinto narra o funcionamento do jornal: o que acontece, hora a hora, na redação, da primeira reunião matinal à edição digital e impressão do papel.
O último e sucinto capítulo descreve a atual configuração do Grupo Folha, e apresenta não só os seus dados empresariais, como algumas curiosidades por trás da produção de um jornal: em sua Redação, por exemplo, os cerca de 500 jornalistas do grupo consomem 13 mil doses mensais de café e produzem o equivalente a 2,8 livros de 200 páginas por dia.
A autora escreveu 800 páginas antes de chegar às 232 finais do livro. "É interessante como ao longo de sua história o jornal manteve algumas características comuns. Desde o início, sempre foi marcado por agilidade e flexibilidade", conclui a autora.
FOLHA EXPLICA A FOLHA
AUTORA Ana Estela de Sousa Pinto
EDITORA Publifolha
QUANTO R$ 19,90 (232 págs.)