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Inovações de Décio fazem falta à poesia de agora

Augusto de Campos revê trajetória do poeta

AUGUSTO DE CAMPOS ESPECIAL PARA A FOLHA

Conheci Décio em 1948. Eu tinha 17 anos e vira, publicado por Sérgio Milliet no "Estado de S. Paulo", um poema dele, "O Lobisomem", que me impressionou muito

Assistindo a uma mesa-redonda sobre poesia no Instituto dos Arquitetos entrei em contato com ele. Décio, Haroldo e eu passamos a nos encontrar semanalmente para discutir poesia.

A época era muito instigante. Era o momento pós-guerra, que nos trouxe a novidade da literatura inglesa, contrariando a tradição brasileira, pautada pela francesa. Floresciam o Masp e o MAM, a Cinemateca, Bienais, nova arquitetura.

Enquanto os intelectuais do primeiro mundo eram basicamente monolíngues e autossuficientes, nós, do 3º, assimilando vários idiomas, fomos devorando tudo e queimando etapas rapidamente com a pretensão de buscar uma síntese fulcrada no critério poundiano da invenção.

Minha edição dos "Cantos", de Ezra Pound, foi adquirida em 1949. Em 1952 já publicávamos a revista-livro "Noigandres", sob o signo de Pound e do trovador Arnaut Daniel, protótipos de poeta-inventor, e conhecíamos o grupo Ruptura dos pintores concretistas.

Era o dado que faltava para completarmos a nossa equação literária, que desembocaria em Mallarmé-Joyce-Pound-Cummings.

Antes de 1956, ano da 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta no MAM, já aditávamos à nossa síntese Oswald, João Cabral, Volpi, e mais adiante, quando Haroldo e eu estudamos russo com Boris Schnaiderman, Maiakóvski: "Sem forma revolucionária não há arte revolucionária".

Um dos fundadores da poesia concreta, introdutor da semiótica e da teoria da comunicação em nosso país, Décio é marginalizado pela crítica e pela mídia.

Pode ser, por mais agressivo, menos simpático que os "Campos brothers", mas não lhes é inferior, e nunca foi premiado por nada. Prêmios são muito relativos. Dependem da qualidade da comissão julgadora.

Os poetas atuais -especialmente os que se inclinam para a "logopeia", o que Pound chamava de "dança de palavras no intelecto", exigindo desenvolvimentos fraselógicos- ganhariam muito se conhecessem melhor a poesia pré e pós-concreta de Décio Pignatari, que deu contribuições originalíssimas não só para a poesia visual, mas -o que é menos percebido- para esse tipo de abordagem do discurso poético.

As suas inovações me parecem pouco assimiladas nesse território e fazem falta como "nutrição do impulso" à poesia de agora.


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