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Crítica comédia

'Os Penetras' renova figura do tradicional malandro carioca

INÁCIO ARAUJO CRÍTICO DA FOLHA

Como tudo que o humor dito popular tem nos trazido é uma mistura de grosseria e boçalidade, de "Os Penetras" em princípio não se poderia esperar outra coisa.

Esta é a surpresa que nos oferece o filme de Andrucha Waddington: uma trama simpática fundada em quiproquós e, sobretudo, na renovação de um personagem tradicional -o malandro carioca.

Ou antes, os malandros, pois Marco Polo (Marcelo Adnet), o bem-apessoado, e Nelson (Stepan Nercessian), nem tanto, agem em conjunto, tapeando turistas e coisas assim. O destino os coloca frente a Beto (Eduardo Sterblitch), otário que vem ao Rio rastejar atrás da ex-mulher e que se juntará à tropa.

Não deixa de ser estranho que esse reencontro com a figura do malandro remeta muito mais a uma antiga novela paulistana, "Beto Rockfeller", do que à tradição da chanchada. Estamos no reino dos entrões, que se aproximam da gente endinheirada para tirar sua casquinha.

E não deixa também de ser sintomática a ausência no filme (como homenagem ou participação) de Hugo Carvana, padroeiro da malandragem à carioca: afinal esse que se propõe como reencontro com um velho espírito carioca na verdade é bem mais uma capitulação ao modo paulista de ver o mundo.

Não estamos mais diante do malandro como forma descompromissada de ver o mundo, mas de malandros atarefados, empresariais, quase estressados. Mas também o Rio mudou: não é mais a capital federal, mas um centro de negócios (e vigarices).

Se evita a vulgaridade com a mesma desenvoltura com que se livra da iluminação horrorosa da maior parte de nossas comédias, há de se convir que faltam alguns degraus para que "Os Penetras" possa se tornar mais que promessa de uma nova comédia.

Em primeiro lugar, o roteiro tem fragilidades quase imperdoáveis para um filme de quiproquó. A personagem de Andréa Beltrão, exemplo mais evidente, só entra em cena para criá-lo; sua passagem pelo filme não tem fecho.

Do mesmo modo, a abertura do filme prepara de maneira insuficiente o que virá -o que talvez explique o final meio apressado.

E não é por acaso que as melhores sequências são as de festas e encontros sociais: aquelas em que menos importa a construção das personagens. São senões compensados, claro, pela composição de Stepan Nercessian: é provavelmente o melhor Zé Trindade desde Zé Trindade.

E é o que o filme tem de mais bem resolvido, embora a evocação já traga consigo a lembrança de certas pragas do cinema nacional contemporâneo, de que "Os Penetras" não está infelizmente livre: o excesso de bom-tom e a pouca sem-vergonhice.


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