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Chileno analisa sua frustração com o socialismo em livro

Em "Nossos Anos Verde-Oliva", diplomata Roberto Ampuero revê sua trajetória em Cuba e no Leste Europeu

"É difícil quando a realidade frustrada de sua utopia ameaça destruir sua própria utopia", diz escritor

SYLVIA COLOMBO DE BUENOS AIRES

O que poderia ser mais romântico para um jovem comunista, nos anos 1970, do que se casar com a filha de um herói da revolução cubana e ir viver na mítica ilha, trabalhando na construção de uma nova sociedade?

Foi o que aconteceu a Roberto Ampuero, 59, depois que deixou o Chile em 1973, após o golpe que derrubou Salvador Allende. Ampuero abandonou a militância e foi estudar na Alemanha Oriental -queria ter uma experiência com o "socialismo real".

Em Berlim, conheceu a filha de Ramiro Valdés, um sobrevivente do Granma (barco que levou revolucionários do México a Cuba) e homem-forte do governo Fidel Castro.

Uma vez na ilha, porém, foi tomando consciência da realidade crua do novo regime. Valdés mostrou ser um dos comandantes da repressão aos opositores do movimento.

Ampuero concluiu que a revolução não trazia os frutos desejados para Cuba e não poderia ser aplicada no Chile, como havia imaginado.

"Nossos Anos Verde-Oliva", recém-lançado no Brasil, conta a trajetória do autor com pesadas críticas ao regime cubano. Embaixador do Chile no México, ele está, desde a publicação da obra, impedido de entrar em Cuba.

Leia trechos da entrevista.

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Folha - No livro, você diz que nada, além da literatura, é capaz de resumir tão bem a experiência que teve enquanto vivia nas ilhas. Por quê?
Roberto Ampuero - A literatura se baseia em sentimentos e percepções. Esse nível de relação com a realidade é mais profundo e humano do que o que se constrói com a história ou com o jornalismo. As experiências mais intensas e originais do ser humano são, em geral, as mais difíceis de descrever e transmitir. Mas a literatura é o que mais se aproxima a essa experiência original.

Você diz que muitos viveram a mesma desilusão com o comunismo, mas poucos se animaram a escrever sobre ela. A que você atribui isso?
É difícil quando a realidade frustrada de sua utopia ameaça destruir sua própria utopia. O ser humano tende então a dissimular, relativizar ou calar. Ainda mais se essa utopia orientou sua vida por anos e anos e se você seguiu numa carreira política. São poucos os que se atrevem a fazer autocrítica. É mais fácil fazê-lo aos 23 anos, como eu, do que aos 40 ou 50.
Custou-me romper com o socialismo, pois acreditava que o comunismo traria liberdade e prosperidade ao Chile. Mas quando conheci os socialismos reais me convenci de que aquilo não trazia liberdade e prosperidade. Renunciei à militância. Me senti sozinho. Mas 1989 deixou claro na Europa do Leste algo que eu havia percebido em 1974: a maioria da população recusava o comunismo, mas não podia expressá-lo por falta de eleições livres.

O escritor Heberto Padilla (1932-2000), perseguido pelo regime, é uma referência constante em seu livro. Como vê sua influência hoje?
Nos últimos dois anos voltaram a ser publicadas, em Cuba, obras de autores cubanos que se exilaram e que estavam proibidos. Sua influência será sentida no rumo que tomem as sociedades num futuro próximo. A de Padilla, referência de minha geração que infelizmente morreu no exílio político, será uma das mais importantes.


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