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Crítica / Música erudita

Registro de referência, disco introduz músico ao século 21

SIDNEY MOLINA CRÍTICO DA FOLHA

Ao assinar uma polêmica "Carta Aberta", em 1950, Camargo Guarnieri (1907-93) foi associado ao pensamento musical conservador, na contramão das poéticas que nasciam com a Guerra Fria.

Paradoxalmente, contudo, ele talvez seja um dos compositores brasileiros mais próximos da proposta de Arnold Schoenberg (1874-1951) de conectar melodia, contraponto, harmonia e ritmo num desenvolvimento integral coeso.

De fato, a percepção da força de sua obra tem aumentado com o passar do tempo. Um exemplo: em junho, a Osesp apresentará a "Sinfonia nº 4" ao lado da radical "Sinfonia" de Luciano Berio (1925-2003) em programa central da temporada.

Gravações recentes também contribuem para esse resgate. É o caso do CD duplo recém-lançado pelo pianista Max Barros, o primeiro volume da integral para piano solo do compositor paulista para o selo Naxos.

O novo álbum traz as três famosas danças ("Brasileira", "Selvagem" e "Negra"), a "Suíte Mirim", a impressionante "Sonata" (1972) e o ciclo dos cinquenta "Ponteios".

Divididos em cinco cadernos, os "Ponteios" (1931-59) formam talvez o mais importante ciclo da história do piano brasileiro. Já no segundo livro (1947-49), Guarnieri inverte de vez a esperada alternância de andamentos. O ciclo impõe sua escrita elaborada, tensa e melancólica.

No "Ponteio" nº 12, uma obstinada figura tonal na mão esquerda convive com uma torrente de notas sem tonalidade clara, que desloca tudo. Com clareza, Barros enfatiza a reexposição variada, que poderia passar despercebida dada a densidade.

Já no nº 16, uma melodia modal grave toma conta do discurso até quase o final, quando surge fugaz no agudo, apenas para se despedir.

É uma gravação de referência - a integral anterior dos "Ponteios", por Laís de Souza Brasil, foi de 1979 -, e que ajuda a lançar internacionalmente Guarnieri como compositor do século 21.


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