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Obra de 1893 é fotografia de sociedade em transformação

DE SÃO PAULO

Revoltas de escravos, feitores cruéis, amas de leite amorosas. Casamentos arranjados, aristocratas decadentes, fazendeiros criminosos.

Com esses elementos, Júlia Lopes de Almeida estruturou seu primeiro romance, "A Família Medeiros", publicado em 1893. A trama se passa no limiar da escravidão na zona rural de Campinas, onde a autora morou dos sete aos 23 anos. As fazendas de café operavam num modelo que caminhava para o abismo.

Júlia aponta para a ascensão dos trabalhadores livres e imigrantes nas propriedades e deixa clara a sua defesa da abolição -que só chega nos capítulos finais.

Na época, a obra chegou a ser comparada com "A Cabana do Pai Tomás", de Harriet Stowe, um marco no debate sobre escravidão nos EUA.

A família Medeiros vive do trabalho escravo. Da Europa chega o herdeiro crítico, mas leniente com o sistema.

É na figura de uma prima, herdeira de uma propriedade sem escravos, que a campanha abolicionista ganha corpo na história. Seu nome é Eva, o mesmo da libertária do romance americano.

Na introdução de "Encantações", Norma Telles diz que talvez Júlia tenha procurado fazer uma alusão ao trabalho de Stowe. Transformada em peça de teatro, a obra americana teve suas apresentações proibidas em São Paulo naquele final de século.

Preocupada com questões femininas, Júlia mostra uma sociedade patriarcal cheia de fissuras. Há personagens resignadas com papéis decorativos e fúteis -que nunca se queixam ou questionam os atos do chefe da família.

Há as que buscam independência e tentam se soltar das amarras do casamento por interesse.

E há a escrava que amamentara os filhos dos brancos. De forma caquética, ela movimenta-se, arrastando-se para apoiar e buscar afeto dos senhores.

Escrito entre 1886 e 1888, o texto acabou sendo, na época, atropelado pela Lei Áurea. "A abolição aparentemente tornara obsoleto o tema do livro", observa o autor Luiz Rufatto na orelha da edição de 2009 da editora Mulheres.

Ainda que o enredo mostre tinturas maniqueístas e simplificadas, "A Família Medeiros" fotografa uma sociedade em transformação.

"Os proprietários de escravos têm geralmente uma compreensão muito errada do seu tempo; não tratam de averiguar de onde parte a razão, nem em que se baseia a moral", desabafa Júlia no romance. (EL)


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