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David Bowie de 2013 se conecta ao de 1977

"The Next Day", primeiro disco após hiato de uma década, revê a sonoridade de seus álbuns gravados em Berlim

THALES DE MENEZES EDITOR-ASSISTENTE DA “ILUSTRADA”

Quem tem idade para ter acompanhado a carreira de David Bowie desde os anos 1970 se acostumou a esperar cada disco do cantor como um pacote de ideias musicais inovadoras. Ele reinventou o rock muitas vezes.

Mas nos anos 1990 e na metade da primeira década deste século Bowie não se mostrou tão criativo quanto antes. Um exemplo é "Reality", de 2003, um ano antes do infarto sofrido pelo cantor em turnê na Alemanha.

Por isso a expectativa pelo primeiro álbum após hiato de uma década era modesta. Fãs queriam vê-lo novamente produtivo. Tudo bem se não fosse espetacular, a alegria de ouvir Bowie já bastaria.

Agora, com o novo álbum disponível para audição e pré-venda na iTunes Store, a ótima notícia: "The Next Day" é um disco muito bom. Aos 66 anos, Bowie trocou a franca inovação por uma releitura de seu trabalho.

A capa é a mesma de "Heroes", de 1977. Apenas o nome foi riscado, de forma rude, e um quadrado branco foi aplicado no centro, ocupando boa área da capa -e cobrindo o rosto de Bowie.

Mensagem clara da ligação do novo trabalho com seus discos da segunda metade dos anos 1970, fase em que o cantor morou em Berlim e gravou por lá. Não por acaso, o primeiro single divulgado, "Where Are We Now?", fala de lugares da cidade alemã, em tom melancólico.

Nesse aspecto a faixa destoa do resto do repertório de "The Next Day". Suas 14 canções passam uma pegada animada e vigorosa de rock. Claro que, sendo Bowie, não é rock comportado, encaixado no modelo tradicional.

Tem vários momentos percussivos, que não nascem apenas da bateria de Zachary Alford. A baixista Gail Ann Dorsey e o guitarrista Gerry Leonard -todos habituais colaboradores de Bowie- também atacam literalmente seus instrumentos, e essas pancadas sonoras criam o som nervoso que guia a audição do disco inteiro.

Os melhores exemplos podem ser "(You Will) Set the World on Fire" e "How Does the Grass Grow?", tão contundentes que deverão provocar inveja em bandas de moleques que estão por aí fazendo rock "agressivo".

Tony Visconti produz um álbum de Bowie pela 12ª vez e assume papel de "porta-voz" nas declarações a respeito do trabalho. Ele disse à imprensa britânica que a frase que mais ouviu durantes as gravações foi "Essa faixa está soando rock, não está?".

Bowie não precisa mais se preocupar. "The Next Day" é, definitivamente, um álbum de rock. Além da ligação clara com os discos de sua "fase alemã" que gravou com Visconti ("Low" e "Heroes"), tem faixas que poderiam ser inseridas sem medo em outro de seus melhores trabalhos, "Scary Monsters" (1980), com o mesmo produtor.

Como sempre quando se trata de Bowie, há músicas inclassificáveis, como "Heat", entre o pomposo e o soturno, que fecha o álbum.

Visconti já declarou que ele e Bowie finalizaram 29 faixas durante as gravações secretas em sessões dispersas por quase dois anos. Além das 14 que estão em "The Next Day" e de mais três incluídas numa edição alternativa "deluxe" que estará à venda, sobram uma dúzia na gaveta.

O que garante pelo menos mais um álbum de Bowie. O que nunca é pouco.


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