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Teatro

Filho de Kazuo Ohno mostra butô em SP

Depois de duas apresentações na capital paulista, Yoshito leva "Ventos do Tempo" a Ouro Preto e Tiradentes

Três anos após morte de seu pai, dançarino dá aulas para postergar legado de gênero iniciado no pós-Guerra

GUSTAVO FIORATTI DE SÃO PAULO

O dançarino de butô Kazuo Ohno passou os últimos anos de vida em uma cama. Velho e já sem o movimento das pernas, continuou dançando.

Morreu em 2010 em Yokohama, no Japão, aos 103 anos, por insuficiência respiratória, sem nunca deixar de expressar-se por meio do movimento.

Nesta coreografia que anunciava a aproximação da morte, usava basicamente braços e mãos. Algo lento, sinuoso como o voo de uma borboleta. Quem faz a descrição, demonstrando os movimentos com os próprios braços, é o filho do dançarino, Yoshito Ohno, 74, que está no Brasil para dar aulas e realizar quatro apresentações.

Ele dança em "Ventos do Tempo", hoje e amanhã no Sesc Consolação, para plateia com 60 lugares. Depois leva o espetáculo ao Teatro Municipal Casa da Ópera, em Ouro Preto (no dia 13), e também à Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em Tiradentes (dia 15).

ORIGEM

Pai e filho começaram a dançar juntos nos anos 1950 essa dança ainda cultuada no circuito underground japonês, de contornos tétricos e referência às trevas. O butô surgiu após a Segunda Guerra, compreendido como vanguarda pós-expressionista, também como um possível retrato dos horrores provocados pela bomba nuclear.

Criado por Tatsumi Hijikata e reestilizado por Kazuo com mais feminilidade inclusive nas vestes, faz menção aos mortos na mesma medida em que enaltece a natureza.

"Expressa algo que vem de dentro para fora", resume Yoshito, que pode ser considerado hoje, após a morte de seus dois mestres, um dos mais velhos e importantes praticantes do gênero.

Yoshito sente-se responsável por levar adiante um vocabulário coreográfico que, mesmo no Japão, ainda tem mais relação com o experimentalismo "avant-garde" dos anos 1970 do que com as tradições milenares ou a popularidade do kabuki.

Ele percorre o mundo dando aulas, atividade que exerce também no Kazuo Ohno Dance Studio, em Yokohama. Só que, como expressão íntima de seus intérpretes, o butô é uma arte mutante por excelência, embora preserve-se na essência minimalista que permite a prática também pelos velhos (a velhice pode ampliar a potência do butô, ao contrário do que acontece no balé clássico e moderno).

Ciente da transformação, que tem inclusive influência na obra de bailarinos de São Paulo como Emilie Sugai e de diretores como Antunes Filho, Yoshito diz que dança hoje sobretudo para resgatar algo que, no Brasil, considera ele, existe de sobra.
"No Japão, as pessoas pararam de ter filhos, a população está envelhecendo", diz.

"Quando ando pelas ruas de São Paulo, vejo esperança e quero trazer isso para o meu trabalho", reitera.

Yoshito, que só fala japonês, em conversa mediada por um tradutor, fala pausadamente e usa metáforas que mencionam pássaros, o mar e, sobretudo, flores.

Conta que começou a dançar butô aos 21 anos, no espetáculo que inaugurou o gênero em 1959, "Kinjiki", dirigida por Hijikata. Menciona, como inspiração de seu trabalho, um quadro do pintor japonês Tawara Sotatsu onde há três flores, uma delas prestes a abrir e, no outro extremo, outra fragilizada pela velhice. São estações, e Yoshito parece estar no meio delas.

WIND OF TIME
QUANDO hoje e amanhã, às 20h (Sesc Consolação); dia 13, às 21h (Teatro Municipal Casa da Ópera, em Ouro Preto); e dia 15, às 16h (Igreja dos Pretos, em Tiradentes)
ONDE Sesc Consolação (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 3234-3000); Teatro Municipal Casa da Ópera (r. Brigadeiro Musqueira, s/nº, Ouro Preto); Igreja dos Pretos (r. Direita, s/nº, Tiradentes)
QUANTO R$ 10 (Sesc Consolação); grátis (Ouro Preto e Tiradentes)
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


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