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Crítica / Teoria literária
Compilação de ensaios de Eco parece um fôlder promocional
Propaganda deliberada da própria obra, livro do italiano nada tem de original
"Confissões de um Jovem Romancista" traz uma piada implícita no título, uma vez que o linguista, romancista e bibliófilo piemontês Umberto Eco (1932) é octogenário.
Mas acha justificativa para a graça ao dizer que começou a escrever ficção há apenas 30 anos, quando estreou com o romance que o tornou mundialmente conhecido, "O Nome da Rosa" (1980).
Os quatro ensaios contidos no livro resultaram de palestras suas em universidades americanas. O encaminhamento de todos eles é feito através de taxonomias e dicotomias, o que evidentemente trai a origem estruturalista de Eco.
Assim, as várias questões abordadas são conduzidas por oposições como escritor científico (cujas conclusões podem ser parafraseadas) e escritor criativo (que não admitem paráfrase e incluem a contradição); inspiração e transpiração (Eco acha que a primeira é apenas malandragem de escritor).
Ou poesia e prosa (na primeira, a escolha das palavras determina o conteúdo, enquanto na segunda é o universo construído e seus eventos que determinam as palavras); espaços confinados e espaços abertos (nos quais ambos interessam, desde que possuam especificidades e restrições).
Ou ainda leitor empírico (cada leitor particular) e leitor modelo (aquele produzido pelo texto); personagens de ficção e pessoas reais (sendo que, ambos, podem produzir emoção); listas práticas (finitas e referenciais) e listas poéticas (infinitas e significantes, mais que conteudísticas).
A oposição central, que está na base das demais, é a que Eco propõe entre texto e intérprete. Para ele, a obra é aberta, mas nem tanto.
Se admite que a intenção do autor é "misteriosa" e "invisível", também acha que as leituras da obra sofrem de uma "deriva incontrolável" e se prestam a "intenções discutíveis" do leitor.
A maneira de botar ordem na casa é acentuar a "presença reconfortante" do texto, cuja intenção é objetiva e "transparente".
PROPAGANDA
Daí a sua ideia, tomada de Karl Popper (1902-1994), de que os limites da interpretação são dados pelo "critério de falseabilidade", no qual as interpretações são confrontadas com o texto postulado como um "todo coerente".
No entanto, conquanto proponha o primado do texto sobre o autor e o leitor, Eco se revela mais interessado em apresentar o autor virtuoso que ele julga ser às plateias americanas para as quais fala.
O livro é um catálogo de autorreferências, nas quais, despudoradamente, ele se põe lado a lado com Joyce, Homero, Cícero, Milton, Shakespeare, Rabelais etc.
Não admira que o volume fique com jeito de fôlder promocional de sua obra para novos leitores.
Os quais, de resto, ele trata rebaixadamente como "fãs", e desafia para uma competição "astuciosa" para reconhecimento de "alusões" eruditas.
Enfim, bem pesado o livro, nada há nele de confessional (mas sim de propaganda deliberada), nada de original sobre a forma do romance (mas observações déjà vu que apenas caberiam num livro de semiótica "for dummies").
Assim como obviamente nada há de "jovem" (conquanto não deixe de transparecer a vontade, inabalável pelos anos, de ser eternamente sedutor).