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Diário de Pequim

mapa da cultura

Tchau, Mao

O Grande Timoneiro de Warhol foi censuradoo

MARCELO NINIO

Do governo aos taxistas de Pequim, a matemática oficial é recitada de forma quase automática para resumir o legado de Mao Tse-tung, o "grande timoneiro" da revolução que fundou a República Popular da China: "70% de acertos, 30% de erros".

A conta, geralmente usada para encerrar a conversa, ainda está bem viva. Falar mal do grande líder segue sendo tabu, embora alguns intelectuais e artistas venham testando os limites da censura.

Alguns exemplos são os irmãos Gao, autores de debochadas esculturas de Mao com enormes seios, e o economista liberal Mao Yushi (nenhum parentesco), que ousou compará-lo a Stálin e a Hitler.

A corda, porém, só estica até certo ponto. A escala chinesa da maior turnê das obras de Andy Warhol na Ásia veio desfalcada dos famosos retratos de Mao, barrados pelo governo. Organizada pelo Museu Andy Warhol, de Pittsburgh (EUA), a exposição já passou por Cingapura e Hong Kong, antes de chegar a Xangai. Depois virá a Pequim, antes da última parada, Tóquio.

O diretor do museu, Eric Shiner, que só soube do veto ao Mao de Warhol na última hora, desconversou, evitando usar a palavra censura. "Não foi tão dramático assim", disse ao site Artinfo.

Seja como for, a exemplo da censura oficial ao cinema, driblada pelo farto mercado de filmes piratas, é um exercício fútil num país cuja população cada vez mais tem como saber o que está perdendo.

Em mercados de Pequim, compram-se facilmente reproduções do Mao de Warhol. Basta entregar algumas cédulas de yuan --todas com o rosto do "grande timoneiro".

NA TERRA DE AI WEIWEI

Celebridade mundial, o artista e dissidente Ai Weiwei é um desconhecido entre a população do distrito de Caochangdi, na periferia de Pequim, onde fica seu estúdio. Poucos notaram que ele passou a circular careca e sem a longa barba, sua marca registrada por anos.

Mesmo os que o conhecem não desconfiaram que a transformação servira a um videoclipe de rock lançado há poucos dias, em que o artista aparece maquiado e vestido de mulher e retrata os 81 dias passados no cárcere, em 2011. Veja o videoclipe em bit.ly/ai_weiwei.

Em 2000, ele foi o primeiro artista a se instalar no bairro, fugindo da especulação imobiliária e da escalada comercial do distrito 798, a mais famosa concentração de galerias da capital. Muitos outros o seguiram. Hoje as casas simples e os vendedores de banana de Caochangdi convivem com cubos de concreto e tijolo aparente, no estilo marcante da arquitetura de Ai Weiwei, copiada em série por galerias de arte do distrito.

ROTINA NA PRISÃO

Nem só de polêmica vive um dos cubos originais, a galeria suíça Urs Meile, que representa Ai Weiwei.

No momento, sua filial em Pequim exibe um interessante trabalho do jovem Cheng Ran, natural da Mongólia Interior, região autônoma da China. Instalações, vídeos, música e literatura se unem para contar uma história de amor que funde ficção e biografia.

Os funcionários da galeria mal escondem a ansiedade em torno da mostra de Ai Weiwei, paralela à Bienal de Veneza, que reproduz em detalhes hiper-realistas sua rotina na prisão. E nenhum deles revela um segredo: como transportaram as peças para fora da China.

PORNOCALIGRAFIA

Se misturar o que há de mais nobre na cultura chinesa com o que há de mais baixo já bastaria para criar uma bela controvérsia, incluir na confusão um rival histórico do país garante a polêmica de uma vez por todas. Foi o que aconteceu quando a estrela pornô japonesa Sola Aoi desembarcou na China para promover um parque de diversões em Ningbo, no leste do país.

Um cartaz pintado por Aoi diante das câmeras, com oito caracteres chineses, foi leiloado por 600 mil yuans (R$ 190 mil), deflagrando um acalorado debate entre os puristas e os fãs da atriz. Na China, enquanto a caligrafia é reverenciada como nobre expressão artística, a pornografia é ilegal. Por isso o choque entre alta e baixa cultura causou faísca nas redes sociais.

Depois que um jornal do Partido Comunista criticou a venda, chamando as pinceladas de "infantis e inábeis", uma avalanche de insultos virtuais foi despejada sobre Aoi. Mas não faltaram defensores da estrela de sucessos do mercado de DVDs piratas como "A Virgem do Céu" e "Garota Cósmica". Sola Aoi é campeã de popularidade no Weibo, versão chinesa do Twitter, com quase 14 milhões de seguidores.

Um fã sugeriu que Aoi fosse nomeada embaixadora do Japão na China para acalmar os ânimos na disputa por um arquipélago desabitado. Ao menos na web, a diplomacia pornô é um sucesso.


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