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As artes e o Estado

JÚLIO MEDAGLIA

Desde que a criação artística ganhou contornos profissionais mais elevados, da Renascença para cá, criou-se também um conflito entre os mecanismos de sua produção e a natureza de seu financiamento.

O "valor de mercado" de uma atividade ou objeto artístico é algo tão complexo e diversificado como os próprios mistérios de sua criação. Ainda hoje uma máquina sinfônica, por mais que toque para plateias lotadas, jamais poderá se autossustentar. Por isso é antiga a relação da produção artística com poderes constituídos.

Se Michelangelo contou com a igreja para criar as mais belas obras da história, a Filarmônica de Berlim, tida como uma das mais carismáticas e importantes do mundo, num dado momento teve que apelar para a ajuda do Estado. No caso, do nacional-socialista.

Os Filarmônicos de Berlim, numa tradução correta de seu nome, se reuniram no ano de 1882. O grupo representava a elite dos músicos da cidade e do universo germânico, responsável pela autoria de mais da metade da música clássica ocidental.

Como o próprio nome diz, a orquestra procurou financiamentos privados além dos recursos provenientes da bilheteria de seus concertos. Apenas os melhores maestros do final do século 19 eram convidados para dirigi-la e, a partir das lideranças de Hans von Bülow (de 1887 a 1892) e de Arthur Nikisch (de 1895 a 1922), a orquestra tornou-se símbolo da excelência sinfônica.

Considerando as enormes dificuldades de sobrevivência no entre guerras, na época já liderada por Wilhelm Furtwängler, a orquestra recebeu recursos do Estado alemão. Inicialmente a orquestra e seu diretor tinham liberdade de atuação e escolha de repertorio. Mas, com o tempo, o enorme prestígio internacional da orquestra seria usado pelo 3º Reich para seus propósitos propagandísticos.

Com a radicalização dos preconceitos nazistas, a Filarmônica deixou de representar aquela redoma cultural sublime para perfilar-se aos ideais do partido.

Esse fato levou Furtwängler a abdicar sua direção e à saída de muitos músicos. Com mais de 80% da cidade destruída, a fase final da Guerra representava também o fim da orquestra, que veio a recuperar seu prestígio com a volta de Furtwängler em 1952. Depois da morte dele, a orquestra foi conduzida pelo maior maestro da segunda metade do século 20, Herbert von Karajan -aliás, ex-filiado ao partido nazista.


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