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"Os vizinhos não se conhecem de fato"
DAIGO OLIVA EDITOR-ADJUNTO DE FOTOGRAFIAA gaúcha Letícia Lampert, 35, venceu o prêmio Pierre Verger de fotografia deste ano na categoria inovação e experimentação. Para o ensaio "Conhecidos de Vista", além das imagens, ela captou depoimentos de moradores de edifícios vizinhos e constatou que a proximidade entre os prédios não é proporcional ao nível de relacionamento. Por e-mail, ela falou à Folha.
Folha - Como surgiu o ensaio "Conhecidos de Vista"?
Letícia Lampert - Comecei por uma série que chamo de "Vista Para". Nela, fotografo a vista da janela, sempre que tapada por paredes e prédios, em diferentes cidades. Se não fosse pelo título [com a localização], não teríamos como identificar cada conjunto de fotos. O que o projeto propõe é a perda de referências geográficas e o embaralhamento' dos lugares pelo crescimento. Vi que poderia fazer essa relação em prédios.
O que os moradores sabem de seus vizinhos?
A grande maioria não se conhece de fato, mas há uma sensação de familiaridade por saberem dos hábitos uns dos outros. Não é uma questão de voyerismo. A maioria prefere não ver ou tenta fugir dos olhos alheios, mas o contato é inevitável. Uma moradora contou que cuidava de uma senhora pela janela. Por ser uma senhora de idade, morando sozinha, ela ficava atenta pra ver se a janela era aberta todos os dias. O futebol também aproxima muito.
Como os moradores encaram a "falta de vista"?
Eles se surpreendiam com meu interesse. "Mas eu nem tenho vista, é este prédio feio aqui na frente", diziam. Ou então, "não prefere fotografar aquela outra janela? É bem mais bonita a vista de lá". Frases assim foram uma constante. Minha percepção é que esta "não vista" é incorporada com naturalidade ou como inevitável na maioria das vezes.