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Minha história

Corrida contra a fraude

Pedro Chiamulera correu em duas Olimpíadas, virou especialista em software, quase faliu sua empresa e hoje tem 75% do mercado de combate a fraudes em lojas virtuais

RICARDO MIOTO DE SÃO PAULO

resumo

Paulo Chiamulera, 48, considera que amarelou nas provas de corrida com obstáculos das duas Olimpíadas de que participou, em Barcelona (1992) e Atlanta (1996). Acredita que a ingenuidade fez com que quase quebrasse a sua empresa de combate a fraudes em compras virtuais, a ClearSale. Hoje, porém, ele emprega mais de 400 pessoas e já negocia expandir seus serviços para o mercado americano

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Eu era o mais novo de dez irmãos. Em Curitiba, onde nasci, um irmão praticava salto com vara. Ele nem treinava direito e vivia viajando. Achei uma boa, fui treinar atletismo.

É prazeroso, você bate suas marcas. Eu ia bem na corrida com obstáculos. Bati recordes e me mandaram para os EUA.

Como atleta, eu era bem amarelão. Fazia treinos incríveis, mas na competição... Tinha dor de cabeça, tinha tudo. Fui à Olimpíada de 1992 e 1996. Não competi bem, meus tempos foram ruins.

Em Barcelona, eu estava tão nervoso, preocupado pensando "tenho de me hidratar", que tomei água demais no caminho do aeroporto até o hotel. Fiquei louco para urinar. Aí enchi tanto que pararam o ônibus para eu fazer na beira da estrada. Que idiotice. Peguei uma urticária, fiquei cheio de alergia na cara, nas outras partes do corpo que coloquei para fora na estrada... Não conseguia treinar, não consegui nem ir à abertura da Olimpíada. Deu tudo errado.

Na universidade onde treinava, no Califórnia, tive de escolher uma graduação. Sempre gostei de matemática, eles tinham um bom curso de ciências da computação. Fiz.

Foi ótimo, porque, quando parei com o atletismo, aos 34, não sabia o que fazer para me sustentar. Resolvi trabalhar com software. Todo mundo falava que eu era maluco, que não ia achar emprego. Com essa idade? Mas eu gostava e fui.

Um dia um conhecido comentou que a Submarino precisava de um software para identificar compras fraudulentas. Escrevi um projeto e mandei. Não sabia bem direito como ia fazer, mas vendi com animação, e toparam. Aí pensei "Ferrou, como vou entregar isso agora?" (risos).

Mas arranjei um estagiário e fomos fazendo. A empresa ia crescendo. Todas as lojas virtuais precisam combater fraudes, porque é muito fácil comprar na internet. Basta ter o número do cartão.

Mas, se aparece alguma coisa que você não comprou na fatura, você manda o banco cancelar. Ele não vai pagar ao varejista, que fica com o prejuízo. A loja não pode deixar a compra acontecer.

Cheguei a ter 25 funcionários. Aí veio 2005. Esse ano me marcou muito. Quase fiquei depressivo. Houve um boom do sistema brasileiro de pagamentos, meus funcionários de tecnologia de informação tiveram ótimas propostas e foram todos embora. Fique só com dois estagiários. Quase quebrei, perdi os clientes que não conseguia atender.

Mais do que isso, o problema maior é que eu cobrava muito pouco dos clientes. Eu era atleta, não sabia nada de administração, era ingênuo. Em 2005, faturei R$ 3.000.

O esporte ensina sobre resistência. Atletismo, então... Você dá um tiro de 400 metros e tudo dói, a perna, a bunda, tudo. Resolvi parar para refletir. Não era possível que um cara largasse a minha empresa por R$ 500 a mais.

Hoje, vejo o quanto as empresas precisam antes de tudo de gente. O fato é que a maior parte delas acha o funcionário um saco. O jeito que você trata as pessoas muda tudo. Se você não conversa, não ouve, o cara perde o brilho no olho. Assim que ele tiver uma chance, ele te manda para aquele lugar.

Tive de me reorganizar. O Bernardo Lustosa, hoje meu vice-presidente, foi montando uma equipe de estatísticos --hoje temos 15, a maioria veio direto da Unicamp. A empresa só voltou ao azul em 2009.

O mercado brasileiro de compras on-line cresce muito rápido. E, com ele, as fraudes. Tem de tudo. Há quadrilhas, que se especializam em roubar dados e torrar o cartão alheio. Além disso, tem gente que rouba os dados de parente, da avó. Outras usam dados de conhecido que já morreu. Já teve amante comprando na internet com o cartão do sujeito sem ele saber.

Temos um modelo de computador que aponta possíveis fraudes. Se há dúvida, ligamos para a pessoa. Muita gente se enrola para dizer o nome da própria mãe. Outros sabem dizer qual a sua data de nascimento --ele roubou esse dado também--, mas se perde na conta se você pergunta quantos anos ele tem...

As fraudes nunca acabam, mas uma boa gestão leva de 5% para 0,3%. Cobramos em média R$ 2 por pedido. Atendemos Ponto Frio, Submarino, Americanas, Dafiti, Saraiva, Magazine Luiza e vários outros. Passam por nós 75% das compras on-line no país, 30 milhões ao ano. Hoje, são 438 funcionários. No ano passado, o faturamento foi R$ 44 milhões. Não temos dívidas.

Agora vamos ao mercado americano. Uma loja média lá é como uma gigante aqui. Queremos uma como cliente.


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