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Entrevista Carlos Wizard Martins

Esta é a hora ideal para quem tem espírito empreendedor

Executivo diz que já ajudou a formar mais de cem milionários por meio do sistema de franquias da rede Wizard

MARIANA BARBOSA DE SÃO PAULO

Autor de "Desperte o Milionário que há em Você" (Gente), segundo livro de negócios mais vendido em 2012, com 100 mil cópias, o curitibano Carlos Wizard Martins, 56, alcançou a fortuna de R$ 1,13 bilhão no ano passado, quando ingressou no ranking de bilionários da Forbes Brasil.

Muito religioso, é de certa forma um antibilionário: não bebe, não fuma, não tem jatinho particular nem Ferrari.

Mais velho de sete filhos de um caminhoneiro e uma costureira de Curitiba, Martins começou a despertar seu potencial empreendedor quando os pais entraram para a igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, conhecida como igreja mórmon.

Tinha 12 anos, começou a aprender inglês e a sonhar em ir para os EUA. Aos 17, com US$ 100 no bolso e 12 prestações da passagem para pagar, foi tentar fazer a América.

Foi garçom, lavou prato, fez faxina. Alguns anos depois, entrou para a faculdade nos EUA, dentro de um programa de bolsa da igreja.

Formado, voltou como executivo de multinacional em Campinas. Mas seu maior diferencial era o inglês: solicitado pelos colegas, começou a dar aulas em casa depois do expediente. Assim nascia o embrião do hoje Grupo Multi, a rede de idiomas Wizard.

O empresário, que escreve "professor" no campo profissão em formulários de hotel, acaba de ter a história de vida contada pelo escritor Ignácio de Loyola Brandão.

Casado e pai de seis filhos com idades de 12 a 32 anos, Martins recebeu a Folha na sede do Multi em Campinas.

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Folha - Como o sr. vê o ambiente para empreender no Brasil hoje?

Carlos Wizard Martins - Vivemos o melhor momento econômico do país, apesar desses PIBs ínfimos que estamos tendo ultimamente. São quase 30 novos milionários por dia no Brasil. São 30 hoje, no final do ano, mil. O número de bilionários também aumentou muito.

Quando se atravessa um momento assim, de prosperidade, as fortunas trocam de mão. Quem tem espírito empreendedor tem a oportunidade para avançar.

O que é preciso para virar milionário?

Três condições. Precisa ter o desejo. O milhão não cai na conta. Mas desejo não basta. É preciso encontrar um projeto de vida que tenha potencial para expandir e ganhar escala. Em terceiro lugar, tem que seguir as leis, as regras, os princípios e os valores.

Isso é que transforma a condição financeira atual em prosperidade.

Imagino que muitos dos 30 milionários que surgem no país a cada dia devem ter ajudado a fazer com que o "Desperte o Milionário" figurasse como o segundo livro de negócios mais vendido em 2012.

Tenho muita satisfação em dizer que nos últimos três anos ajudei a formar mais de cem milionários por meio do sistema de franquia.

Dá para ficar muito rico como franqueado? Não é preciso criar uma franquia?

A franquia é a forma mais segura e rentável de tocar o próprio negócio. Há franqueados que fazem grandes fortunas adquirindo múltiplas unidades e criando minirredes. O setor cresce 16% a 17% ao ano no Brasil. Há diversas oportunidades tanto para o grande investidor como para o micro que tem

R$ 10 mil para investir.

Era sua ambição entrar para listas de bilionários?

Jamais. Quando a Wizard nasceu, eu tinha um sonho: ter uma escola em cada capital, com cem alunos cada uma. Pra mim isso já seria uma grande vitória.

E como o sr. renovou as ambições após conquistar o primeiro objetivo?

Tive um consultor, Roque Cezar de Campos, que foi o primeiro visionário que tivemos no grupo. Ele me alertou para o potencial do negócio. E eu, ainda mais professor do que empreendedor, ouvia com certa descrença. Querendo acreditar, mas também duvidando do consultor.

Por essas e outras histórias, o sr. não parece ter uma alma muito ambiciosa, empreendedora...

Como interpreto isso? Todo empreendedor passa por experiência semelhante a uma travessia de um túnel escuro. Você tem uma lanterna que dá um facho de luz de um, dois ou três metros, mas não consegue ver o final.

Mas, ao caminhar aqueles dois ou três metros, vê surgir um novo facho de luz que o levará por mais um metro, dois ou três. Até que, depois de algum tempo, você consegue ver o final do túnel. Eu estava entrando nesse túnel, não sabia onde ia dar. E pessoas como esse consultor foram me dando coragem, estímulo.

Seus filhos mais velhos, os gêmeos Charles e Lincoln, foram decisivos nessa travessia?

Eu fundei a Wizard e eles, o Grupo Multi. Ambos fizeram faculdade nos EUA e voltaram com a visão de que o mercado mundial estava vivendo uma onda de consolidação desenfreada. E, eventualmente, essa onda chegaria ao Brasil.

No início eu resisti. Não vi na iniciativa algo que pudesse trazer resultado. Disse: Nós já temos uma posição de liderança no país. Somos a maior rede de ensino, não precisamos nos preocupar com concorrência. Eles continuaram batendo nessa tecla.

Depois de um tempo, vieram com uma argumentação que me fez repensar. Eles disseram: Pai, se você não assumir o papel de liderança, grupos estrangeiros vão vir para o Brasil e começar a comprar a concorrência. E, quando isso acontecer, ficaremos em posição de fragilidade.

Eles me alertaram para um risco. Então assinei um cheque de R$ 1 milhão para eles fazerem a primeira compra [a rede Yeski, de Campinas, em 2004]. Fizemos a consolidação e eles ganharam fôlego. Fiz mais um cheque, de R$ 2 milhões. E não pararam mais.

A compra do Yázigi foi ideia deles. Só tenho que reconhecer e parabenizar a iniciativa deles, que colocou o grupo na posição em que estamos hoje.

O sr. é muito religioso, de hábitos simples, não fuma, não bebe. O que o motiva a fazer mais dinheiro?

Sabe que uma vez fui para Salt Lake City [sede da igreja mórmon nos EUA] com o José Safra [Joseph Safra, banqueiro, 2ª maior fortuna do país, R$ 26 bi], no avião dele, um superjato. Daqui para lá dá um bocado de tempo e fomos conversando. E fiz exatamente essa pergunta: Sr. José, o sr. tem 63 anos de idade. Todo dia de manhã levanta e põe seu terninho, pega o helicóptero, vai para o banco. Cumpre o expediente e volta para casa. Qual a motivação? Já se deu conta de que está construindo uma fortuna cada vez maior que nunca vai chegar a usufruir? Não é que o velhinho me deu uma resposta: Carlos, todos nós estamos na mesma situação. Depois de um certo grau de conforto e conveniência, a gente está construindo patrimônio que nunca vai usufruir.

E como o sr. usufrui do patrimônio que tem hoje?

Para mim, ter ou não ter uma Ferrari não faz diferença. Podia ter uma? Podia. Meu filho tem uma. Meu negócio é ir do ponto A ao ponto B. Nem dirijo, tem o motorista. Temos um helicóptero na empresa. Viajo muito. Já percorri 41 países. Pratico natação, tenho academia em casa. Instalei computador na esteira, de forma que tenho uma tela gigante na parede, em que assisto noticiário, mando e-mail. Eu e minha mulher temos uma atividade intensa em função da igreja. Duas vezes por ano vamos visitar a família nos EUA. Temos imóveis em Orlando.

Os mórmons são conhecidos por serem bem-sucedidos nos negócios. O que explica isso?

Para os mórmons, a prosperidade, o desenvolvimento pessoal e financeiro, são virtudes. Mas acredito que uma boa explicação é o fato de que a igreja incentiva os jovens a obter o maior grau de instrução acadêmica possível.

Para auxiliar os menos favorecidos, mantém um fundo internacional de educação que paga os estudos universitários no exterior para jovens de todo o mundo. No Brasil, 15 mil jovens são atendidos por esse fundo da igreja.

O sr tem seis irmãos, todos mórmons. Eles também empreenderam?

Dois montaram um negócio no setor automobilístico em Utah e um outro tem um negócio de música, faz produção e vídeo em Orlando. As moças se casaram. Fui o primeiro a ir estudar nos EUA. Os seis seguiram o mesmo caminho e depois meus pais também foram. Estão todos lá até hoje. Só eu voltei.

Para fazer a América no Brasil...

Não é que o Brasil se mostrou mais fértil para empreender? Minha América estava aqui dentro de casa.


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