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Entrevista Mao Yushi
É preciso eliminar privilégios e quebrar monopólios na China
Para economista liberal que considera mao pior do que hitler e stalin, crise financeira é principal risco para gigante asiático
A persistente defesa do livre mercado, em um país sob rígido controle do Partido Comunista, tornou Mao Yushi, 84, o mais proeminente economista liberal da China.
A promessa do novo governo chinês de introduzir reformas econômicas em um momento de desaceleração no crescimento do país é vista por ele com ceticismo.
Para ele, a ação mais urgente, e a mais improvável, é a reforma política, para eliminar privilégios dos poderosos e quebrar o monopólio das enormes estatais locais.
Um dos fundadores do instituto econômico liberal Unirule, em Pequim, Mao atraiu a ira de ultraesquerdistas com críticas ao endeusado líder comunista Mao Tsé-tung.
Há poucas semanas, um grupo de "neomaoístas" foi no meio da noite a sua casa, em Pequim, para disparar insultos e ameaças contra ele.
Mao (sem parentesco com o líder comunista) não se abala e mantém as críticas.
"Mao foi pior que Hitler e Stalin", diz o economista.
Folha - O governo diz que sua prioridade é implementar reformas econômicas. Quais os maiores desafios?
Mao Yushi - Estamos num processo contínuo de reformas há mais de 30 anos, que foi muito bem-sucedido. Mas agora há novos problemas.
Precisamos de novos alvos. Por exemplo, desregular o setor financeiro e remover o monopólio do governo em áreas como telecomunicação, energia elétrica e petróleo. O problema é a resistência dos grupos de interesse.
Há comprometimento do governo com as reformas?
É muito difícil quebrar os monopólios. A reforma econômica depende de uma reforma política, que parece muito pouco provável. É preciso eliminar todos os privilégios econômicos e políticos. Atualmente, as altas autoridades estão acima da lei.
O senhor prevê uma desaceleração acentuada do PIB?
O crescimento está caindo, mas é aceitável, 7,5% ao ano. O problema é a crise financeira, que é muito perigosa para a China. O sistema bancário tem um enorme volume de créditos podres. A questão é quando isso vai explodir.
Pode haver um colapso?
Na China, a crise financeira é muito diferente. Quem manda no sistema bancário é o Estado. Quando a crise explodir, o Estado assumirá a dívida. O Estado chinês é muito rico, tem US$ 3 trilhões em reservas. A crise é inevitável. Não levará a um colapso, mas afetará o crescimento.
O plano de reformas do premiê Li Keqiang, com foco no consumo interno, foi apelidado de "Likonomics". Ele está na direção certa?
Não existe "Likonomics". Economia é economia, no Oriente ou no Ocidente.
Uma queda acentuada do PIB pode levar à instabilidade social na China?
A maioria dos choques entre a população e o governo não tem origem na desigualdade, mas sim na negação de direitos básicos. Por exemplo, quando o governo expropria terras sem compensação.
Os neomaoístas continuam lhe fazendo ameaças?
Respeito a liberdade de expressão. Mas vieram à minha casa no meio da noite para me insultar. É perturbador.
Por que o senhor escreveu o artigo crítico a Mao Tsé-tung?
Mao foi pior que Hitler e Stalin. Minha estimativa é que suas decisões causaram a morte de 50 milhões. Muitos jovens aqui não sabem o que Mao fez. Eles admiram a igualdade que havia naquele tempo. Sim, havia igualdade, mas num nível muito baixo.