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Velha China é entrave à guinada econômica

Premiê Li Keqiang promove urbanização para transformar consumo interno em esteio do crescimento do país

Plano, no entanto, deve encontrar resistências em grupos de interesses monopolistas e no alto endividamento público

MARCELO NINIO DE PEQUIM

Até os céticos reformistas chineses consideram o economista Li Keqiang, que assumiu o cargo de premiê em março, o homem certo para conduzir a transição da economia e romper um modelo que dá sinais de esgotamento, após três décadas de crescimento acelerado.

Daí a acreditarem que ele terá força política para executar seu plano de reduzir o tamanho do Estado e dar mais espaço às forças de mercado é outra história.

Para eles, o chamado "Likonomics", como o programa de reformas de Li foi batizado por um banco de investimentos --termo logo adotado pela mídia estatal chinesa--, está longe de provar que merece crédito.

Sheng Hong, diretor-executivo do instituto econômico liberal Unirule, em Pequim, diz que perdeu a confiança no governo depois de dez anos ouvindo falar de reformas, sem ver resultados.

"Li entende os mecanismos do mercado. Ele talvez queira fazer reformas, mas há poderosos grupos de interesse que o sabotarão, porque elas quebrariam o monopólio das estatais", diz.

"LIKONOMICS"

Alguns analistas acharam precipitado quando, em junho, três economistas do banco Barclays na Ásia batizaram o plano do premiê chinês de "Likonomics".

O termo seguia neologismos como "Reaganomics" (do presidente dos EUA Ronald Reagan) e o mais recente "Abenomics", do premiê japonês, Shinzo Abe.

Mas a nova liderança mal havia chegado ao poder e o plano ainda era pouco mais que uma promessa. Uma formulação mais detalhada da política econômica é esperada para outubro, em reunião do Partido Comunista.

Em pronunciamentos, Li definiu os três pilares do "Likonomics": menos medidas de estímulo, arrocho do crédito e reformas estruturais.

O objetivo é que o consumo interno substitua as exportações e os investimentos como maior propulsor do crescimento. O governo sinalizou que irá tolerar a queda do crescimento anual até 7%, embora oficialmente mantenha a meta de 7,5% para 2013, a menor dos últimos 23 anos.

O plano prevê acelerar a urbanização do país, com a migração de 300 milhões de pessoas do campo para as cidades até 2020. Segundo cálculo da Academia Chinesa de Ciências Sociais, o governo terá que gastar 650 bilhões de yuans (R$ 242 bilhões) por ano em ajuda aos migrantes.

Na opinião de outro proeminente reformista, o economista Zhang Weiying, da Universidade de Pequim, a nova onda de urbanização só dará certo se acompanhada de medidas de livre mercado.

"Mover populações não deveria ser uma tarefa do governo, mas do mercado", afirma Zhang. "Se houver liberdade para a iniciativa privada, a indústria crescerá e atrairá os trabalhadores rurais."

Além disso, lembra Zhang, o governo ainda se mostra vago em sua disposição de corrigir a maior distorção do processo de urbanização: o registro de residência criado em 1958 nega aos moradores do campo direitos sociais quando se mudam para cidades.

ENDIVIDAMENTO

Um dos maiores problemas da economia chinesa é o endividamento acumulado desde a crise global de 2008, quando houve uma explosão do crédito para manter o crescimento. De acordo com estudo recente do FMI, a dívida total dos governos central e locais chega a 45% do PIB, o dobro da cifra oficial.

Michael Pettis, especialista em economia chinesa da Universidade de Pequim, acha que o "Likonomics" começou com o pé direito, com o aperto no crédito promovido em junho pelo Banco do Povo da China (BC).

A medida aturdiu os bancos e fez os juros dispararem. Os temores de um novo aperto foram dissipados na semana passada, quando o BC chinês injetou 15 bilhões de yuans. Mas Pettis acredita que foi dado o alerta contra os empréstimos de risco.

"O premiê Li surpreendeu muita gente no mercado", diz. "Ele enfrenta a oposição da elite que se beneficiou do crescimento movido à base de dívidas, mas até agora tem se mostrado firme."

Aumentar o consumo interno é tarefa de longo prazo, que implicará queda no crescimento para de 3% a 4% anuais, diz Pettis. Ele lembra que na China o consumo representa a menor fatia do PIB entre as maiores economias.

"O consumo precisaria crescer 10% ao ano para manter expansão anual do PIB de 6%. O governo tenta fazer isso desde 2005, sem sucesso. Com a economia mundial no mau estado em que está, por que conseguiria agora?"


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