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Cifras e Letras
Crítica economia internacional
Analista aposta no xisto como força de crescimento dos EUA
Para autor, investimentos são a saída para o país enfrentar deficit público
Os Estados Unidos estão no limiar de um novo avanço econômico de longo prazo, comparável ao excepcional crescimento da metade do século 20. A previsão é do analista Charles Morris em seu novo livro "Comeback, America's New Economic Boom" [O retorno, o novo boom econômico americano], recém-lançado nos EUA.
Advogado e ex-banqueiro, ele se especializou em escrever sobre economia. Colabora com publicações como "The New York Times", "The Wall Street Journal" e "Atlantic Monthly". É autor, por exemplo, de "Os Magnatas" (2005), em que narra a construção dos impérios de John Rockefeller, Andrew Carnegie, Jay Gould e JPMorgan.
Morris reconhece que muitos prognósticos para a economia norte-americana são sombrios. Mas defende que há mudanças em curso que abrem a perspectiva de um desenvolvimento robusto --se erros não forem cometidos. Para ele, a produtividade está crescendo, há vantagem importante no setor de energia, e o Estado deve investir forte em infraestrutura e no sistema de saúde.
Morris argumenta que é possível controlar o deficit e não se assusta com os seus números atuais. Lembra que a pior relação entre dívida e PIB ocorreu logo após o fim da Segunda Guerra e que foi com crescimento que essa questão foi enfrentada.
Como naquele tempo, recomenda investimento para atacar o deficit. Propõe também elevar impostos e corte substancial nos gastos militares.
ENERGIA
Boa parte do livro é dedicada a destrinchar a novidade energética advinda da exploração de xisto, que chama de "revolução não convencional". Conforme previsão da Agência Internacional de Energia, em 2020 os EUA podem ultrapassar a Arábia Saudita na produção de petróleo e a Rússia na de gás.
Didaticamente, Morris explica o funcionamento dessa extração. Destaca que o governo federal teve papel fundamental no desenvolvimento da tecnologia, aspecto esquecido por muitos analistas.
Projetos e incentivos que desaguaram no conhecimento atual foram criados no bojo do choque do petróleo, nos anos 1970. Assim, o modelo para o xisto --unindo Estado e empresas privadas-- seguiu o mesmo roteiro que viabilizou a indústria de semicondutores nos seus primórdios.
Morris defende que a queda nos preços de energia, proporcionada pelo xisto, vai incentivar o retorno ao país de muitas empresas norte-americanas que nas últimas décadas se instalaram no exterior em busca de mão de obra e insumos baratos.
Esse movimento de retorno deve provocar uma recuperação no emprego, afirma. Citando várias projeções, o analista advoga que o próprio setor energético terá uma contribuição importante na geração de vagas --algo em torno de 3 milhões em 2020, de acordo com uma previsão.
Apesar do entusiasmo com o xisto, Morris não deixa de enfatizar os problemas que a exploração provoca. Recorda do ótimo documentário "Gasland" (Josh Fox, 2010), que mostrou fogo saindo de torneiras em áreas próximas a extrações de gás. O autor condena os atentados ao ambiente e pede transparência e cuidado dos empresários.
No seu desenho para o futuro, o livro sugere políticas guiadas pelo setor público na infraestrutura e na saúde. Na sua visão, são essenciais para o desenvolvimento do país.
"Crescimento é a cura mágica para os deficit: com ele, o governo pode continuar a investir, e infraestrutura e saúde são áreas em que os gastos governamentais não são pesos mortos --vão diretamente para o setor privado."
Morris passa ao largo do sistema financeiro na sua análise. Mas é bom lembrar que fez um preciso e antecipado diagnóstico da última crise. Está no premiado "O Crash de 2008" (2008), um bom guia para entender o que ocorreu.