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Negócio afinado

Gigante dos fundos de investimento acerta a compra da mais famosa fábrica de pianos do mundo, a Steinway, por US$ 512 milhões

WILLIAM ALDEN DO "NEW YORK TIMES"

John Paulson, bilionário dos fundos de hedge (especializado em contratos hipotecários, de ouro e outros ativos financeiros), já é dono de três pianos da Steinway & Sons, a marca mais famosa e respeitada do mundo. Somados, eles valem dezenas de milhares de dólares.

Mas, no jargão dos investidores, Paulson decidiu elevar sua exposição. Nesta semana, sua companhia, a Paulson & Co., fechou acordo para comprar a fabricante, a Steinway Musical Instruments, por US$ 512 milhões.

A transação atraiu atenção no mundo da música e em Wall Street. Paulson lucrou bilhões em 2007, principalmente ao apostar contra o mercado da habitação.

Embora a Paulson & Co. detenha participações acionárias em companhias, jamais havia tomado completamente o controle de uma.

No entanto, ele diz que o cálculo foi bastante simples: ele ama os pianos Steinway.

"Sempre fui apaixonado pelo produto", disse Paulson em entrevista sobre o negócio, na última quarta-feira.

"Há marcas famosas em todas as áreas, mas nenhuma têm tanto destaque no extremo mais elevado de seu mercado", afirmou.

Embora tenha conseguido o que desejava apenas alguns dias depois de apresentar a primeira oferta, surgiu uma disputa de bastidores pelo controle da Steinway.

Em julho, a Kohlberg & Co., uma companhia de capital privado, anunciou acordo para adquirir a Steinway por US$ 35 por ação. Mas decidiu se retirar na terça, diante da oferta de US$ 38 por ação apresentada por Paulson.

No mesmo dia, porém, surgiu um novo desafiante --a Samick Musical Instruments, da Coreia do Sul, a maior acionista da Steinway, que ofereceu US$ 39 por ação.

BEETHOVEN

Na manhã da quarta-feira, a Steinway, cujo código de identificação de ações na Bolsa é LVB, em referência a Ludwig von Beethoven, anunciou a vitória de Paulson, que elevou sua oferta a US$ 40 por ação.

"Tivemos sorte nesse caso, por John ser fã pessoal do produto", disse Michael Sweeney, presidente-executivo e do conselho da Steinway, quarta-feira. "O amor dele pelo instrumento lhe oferece indicações sobre como expandir o negócio."

Embora a transação esteja concluída, ainda existe a chance de que surja uma oferta mais alta, e a Steinway tem o direito de considerar ofertas não solicitadas.

No mundo da música, a Steinway não é uma companhia qualquer. Fundada em 1853 por um imigrante alemão em Manhattan, Henry Engelhard Steinway, e seus três filhos, os pianos Steinway se tornaram ícones nas salas de concerto e nas salas de visitas. A companhia dedica quase um ano à construção de cada um de seus pianos de cauda, e o resultado, dizem os devotados compradores, é uma qualidade de som sem paralelo.

O anúncio, em março, de que a companhia venderia seu famoso showroom na rua 57, em Manhattan, foi recebido com pesar.

PERCALÇOS

As manobras financeiras causaram preocupação aos entusiastas dos pianos Steinway, que relembraram dificuldades do passado. A empresa, sob controle familiar até 1972, foi vendida naquele ano à CBS, que na opinião de muitos sacrificou a qualidade em busca de lucros.

Frank Mazurco, vice-presidente da companhia até sua aposentadoria em 2007, conta que a CBS cortou custos, substituiu executivos e pressionou por um aumento na produção.

"Tivemos de cuidar muito do controle de danos", diz Mazurco. "Não era uma boa parceria."

Leon Botstein, diretor musical da American Symphony Orchestra, em Nova York, e reitor do Bard College, disse que o período da CBS no controle da companhia deveria servir de "alerta" a Paulson. A Steinway foi vendida em 1985 a investidores de Boston e, depois de mudar de dono uma vez mais, abriu seu capital em 1996.

"Esperemos que o fundo de hedge tenha algum idealismo, interesse em algo mais que faturar", disse Botstein.

Paulson prometeu manter o negócio em geral inalterado, e indicou não ter planos de fechar, transferir ou mudar qualquer das operações industriais da Steinway.

Em lugar disso, a estratégia dele para a companhia envolve expandir seu alcance em todo o mundo.

LUXO, AMOR E CARINHO

Ele também está apostando que a melhora na economia e no mercado da habitação ajudará as vendas de pianos Steinway, um bem de luxo cujo preço se tornou inacessível nos últimos anos, mesmo para os ricos.

Arnold Ursaner, analista da CJS Securities, disse não ser surpresa a compra de Paulson --que doou US$ 100 milhões ao fundo de conservação de parques de Nova York no ano passado.

"É uma marca mundial de luxo", ele disse. "Como um quadro clássico ou um apartamento magnífico na Quinta Avenida."

A Steinway hoje vende mais que pianos, e produz instrumentos de metal, clarinetes, saxofones e baterias. E esse aspecto do negócio é a cara de Paulson.

Embora não seja pianista, ele tocou bateria, clarinete e saxofone na adolescência e antes dos 30 anos, deixando os instrumentos de lado só quando deixou de ter tempo.

Para Botstein, os antecedentes musicais de Paulson são um sinal positivo.

"Ele adquiriu algo que traz grande responsabilidade moral", disse Botstein. "Seria uma tragédia que a empresa sofresse abusos e exploração. Ela precisa ser tratada com amor e carinho."


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