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Vinicius Torres Freire

'Bota o retrato do velho outra vez...'

O 'volta Lula' pipoca e causa sururu no Planalto, mas não parece um movimento popular

"Bota o retrato do velho outra vez/ Bota no mesmo lugar/ O retrato do velhinho faz a gente trabalhar", dizia a marchinha de gravada logo depois da eleição de Getúlio Vargas para presidente, em 1950, e lançada para um sucesso enorme no Carnaval de 1951. 1950 foi também um ano de Copa no Brasil.

Anteontem, um deputado "aliado" do governo pendurou uma foto oficial do ex-presidente Lula na parede do ambiente onde os deputados do PR fritavam a candidatura de Dilma Rousseff, em um evento "volta Lula".

Era citação histórica ou piada involuntária?

Deposto Vargas, em 1945, houve um bota-fora de fotos oficiais do ditador, que "decoravam" repartições e casas de admiradores e desafetos precavidos. A marchinha ironizava os inimigos derrotados do getulismo, aliás numa letra com gosto ruim de servidão voluntária temperada com um tico de fascismo brasileirinho.

Dilma está tiririca com o "volta Lula", o "voltismo", digamos de modo sarcástico, para lembrar o "queremismo", movimento de 1945 que pretendia esticar a permanência de Vargas no poder ("Queremos Getúlio").

Lula foi um presidente da democracia. Nada a ver com Vargas a não ser o fato de também ter se transformado num mito popular. Mas o que há de popular no "voltismo"?

Todo mundo sabe da insatisfação difusa, do mal-estar com a incivi- lidade brasileira, da irritação com preços. Por falar em marchinhas, antes da eleição de 1950 uma delas dizia assim:

"Ai, Gegê/que saudade/ Que nós temos de você/ O feijão subiu de preço/ O café subiu também" etc. Gegê era, claro, Vargas.

Inflação sempre cai mal. O governo Dilma a esnobou, o que obviamente dá em problemas de política econômica e prestígio.

A inflação de agora nem é alta, para padrões brasileiros, embora daninha e algo pesada em termos de preços da comida, mais visíveis e sensíveis. A irritação de fundo com a carestia foi uma prévia silenciosa de junho de 2013.

Várias pesquisas de confiança do consumidor e de empresários mostram desânimo, regridem ao nível de 2009, de leve recessão no Brasil e crise mundial. Nada disso se passa agora, embora a inflação da comida tenha outro pico, juros subam, o crédito seja mais difícil e mais gente desista de procurar trabalho.

Mas não há "hits" de funk, rap ou sertanejo dizendo "volta Lula", apesar das ondinhas de "voltismo" nas redes sociais.

O "voltismo" por ora é mais uma espécie de conspiração informe, "de cúpula", por trás dos panos, de quem quer se livrar de Dilma: governistas e alas petistas insatisfeitos com sua parte do butim, aliados com medo de perder a eleição, gente que negocia o preço do apoio à reeleição.

Há muito empresário que, de modo em geral passivo e muita vez ingrato (houve tantos favores), faz gosto na fritura da presidente. A finança não quer ver Dilma nem pelas costas.

Lula continua ambivalente. Há escândalos e CPI à vista. O povo reconhece melhorias, mas quer alguma outra coisa.

Isto posto, a presidente começa uma contraofensiva de propaganda. Vai falar no Primeiro de Maio, será ungida candidata pelo PT na sexta, vai alardear que muito programa social de massa e benquisto foi obra sua. Apesar de tudo, note-se, Dilma ainda está ganhando a eleição.


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