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Norberto Odebrecht aproveitou "milagre" e encarou escândalos

Empresário que fundou o grupo Odebrecht morreu neste sábado (19) por complicações cardíacas

Conglomerado engloba construção civil, petroquímica, petróleo, gás, defesa, mineração, açúcar, álcool e serviços

ELEONORA DE LUCENA DE SÃO PAULO

Norberto Odebrecht, que morreu neste sábado (19), aos 93 anos, por complicações cardíacas, herdou do pai uma empresa falida. Tinha 21 anos e um caminhão de dívidas. A Emílio Odebrecht & Cia não resistira às mudanças provocadas pela Segunda Guerra Mundial, que trouxeram escassez e alta nos preços dos materiais de construção.

Eram os anos 1940. O patrimônio da firma tinha sido entregue aos bancos e havia obras para serem concluídas. Dois anos depois, Norberto fez um pacto com banqueiros para pagamento das dívidas.

Em 1944, fundou sua própria empresa, a Norberto Odebrecht, marco do império que hoje se espalha pelas áreas de construção civil, petroquímica, petróleo, gás, defesa, mineração, açúcar, álcool, serviços.

Ficou quase 50 anos à frente da companhia. Sempre muito próximo de governos, passou por crises políticas e econômicas, denúncias de corrupção, erros e acertos de gestão. Tirou proveito do período de crescimento na ditadura e das privatizações na redemocratização.

Com aquisições, entrou no clube dos empreiteiros pesados, das grandes obras do "milagre brasileiro". Rumou para o exterior quando as obras minguaram no país e diversificou os negócios.

EDUCAÇÃO GERMÂNICA

Norberto nasceu no Recife em dezembro de 1920. Foi para Salvador quando tinha pouco mais de cinco anos. A rigorosa educação germânica o levava a engraxar sapatos, arrumar cama, rachar lenha. Tinha aulas em casa.

Primeiro, da mãe Hertha, recebeu a influência das ideias calvinistas. Depois, aprendeu com o pastor luterano Otto Arnold. Tudo em alemão. Só aos 12 anos Norberto aprendeu o português. Relatou que sentiu um choque ao passar a conviver com os filhos da elite baiana: "Eles achavam que tinham vindo ao mundo para serem servidos e não para servir".

Nos anos 1940, Norberto enfrentou a quebra do pai. Três anos depois de sair do sufoco, caiu de cama por causa de paratifo. Ficou doente e imobilizado por 47 dias.

Das experiências de doença e de falência, e da disciplinada formação que recebeu, extraiu as bases do que mais tarde batizou como a Tecnologia Empresarial Odebrecht, que prega a descentralização administrativa, o planejamento e parcerias.

Suas ideias resultaram em livros e foram sistematizadas em "Sobreviver, Crescer e Perpetuar" (1981). Defendeu a necessidade do reinvestimento e recusou receitas rápidas de enxugamento. "Todas as vezes em que me deixei influenciar por teorias, o resultado foi desastroso."

Fazendo um oleoduto, Norberto se ligou à Petrobras já em 1953, ano da fundação da estatal. Em 1969, construiu o edifício-sede da estatal no Rio de Janeiro, obra que virou seu "cartão de visitas" para entrar com força no mercado do Sudeste. Depois, ergueu o aeroporto do Galeão, a usina de Angra 1 e a ponte Colombo Salles,em Florianópolis.

"MALCRIADO"

Por decisão de Ernesto Geisel, construiu também nos anos 1970 a Universidade do Estado da Guanabara (atual UFRJ). "Foi o presidente Geisel quem disse: Entregue isso àquele nordestino malcriado'", lembrou. Odebrecht recebera o apelido por causa de uma discussão com o ditador sobre o prédio da Petrobras.

Com um trajeto diferente das grandes firmas que emergiram da construção de hidrelétricas, a empresa baiana ganhava o seu naco do "milagre econômico" da ditadura militar. A mudança rumo ao Sul foi provocada pela extinção da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste).

As obras nas regiões mais ricas do país engordaram o caixa da empresa. Numa viagem a Moscou com o então ministro Delfim Netto, a Odebrecht conseguiu contratos em Angola e ampliou a atuação fora do Brasil. Comprou outras empresas e criou a Braskem, maior petroquímica da América Latina.

Nos anos 1990, a Odebrecht se enredou nos escândalos de corrupção do ex-presidente Fernando Collor. A empresa contribuiu para o esquema do tesoureiro PC Farias e foi acusada de pagar propinas a funcionários públicos e políticos, manipulando concorrências e a gestão do orçamento.

Nesse tempo, quando a empresa já era dirigida pelo filho Emílio, Norberto disse à Folha estar arrependido em ter contribuído com Collor: "Se arrependimento matasse, teria ocorrido no Brasil uma hecatombe".

Casou com Yolanda Alves, aos 23 anos, e teve cinco filhos. Em 1998, deixou a presidência do conselho de administração do conglomerado para o primogênito. Em 2008, foi a vez de o neto, Marcelo, filho de Emílio, assumir o comando do grupo.


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