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Contra deflação, Europa corta mais os juros e pode lançar US$ 1 trilhão
BC da zona do euro adota pacote para estimular empréstimos e tirar economia da estagnação
Taxa básica de juros cai de 0,15% ao ano para 0,05%, e a paga pelos depósitos passa de -0,1% para -0,2%
Com a economia do bloco de 18 países que usam o euro como moeda flertando com a deflação, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou um pacote nesta quinta-feira (4) para estimular os empréstimos na bloco e evitar a recessão.
A medida mais significativa é que o BCE vai começar a comprar títulos lastreados por ativos, que são papéis que "empacotam" financiamentos de bancos a empresas e pessoas físicas e depois são revendidos.
Os detalhes dessa operação só serão divulgados no mês que vem, mas Mario Draghi, presidente do BCE, sinalizou que o poder de fogo do banco central pode alcançar US$ 1 trilhão.
A ideia com isso é fazer com que os bancos aumentem seus empréstimos, estimulando assim a atividade econômica e impedindo um cenário de deflação que parece cada vez mais próximo.
A taxa de inflação na zona do euro ficou em 0,3% em agosto em relação ao mesmo período do ano anterior, muito distante dos cerca de 2% --a meta do banco central.
A deflação representa um risco porque ela é um sinal de que os consumidores não estão dispostos a gastar. Com os preços em queda, muitos podem adiar suas decisões de compra, esperando um novo recuo, criando um ciclo vicioso que prejudica a recuperação da economia.
Diferentemente das dos EUA e do Reino Unido, a economia da zona do euro ainda continua distante dos níveis pré-crise de 2008: o desemprego permanece alto (11,5% em julho), e o PIB da região ficou estagnado no segundo trimestre ante os três primeiros meses deste ano.
Além da compra de títulos lastreados em ativos, o BCE anunciou uma nova redução na taxa básica de juros, de 0,15% ao ano para 0,05%.
A taxa paga pelos depósitos dos bancos comerciais ficou ainda mais negativa, de -0,1% para -0,2%.
Ou seja, as instituições financeiras terão de pagar à autoridade monetária se quiserem deixar dinheiro parado no organismo.
E Draghi indicou que as medidas podem não parar por aí: "O conselho supervisor [do BCE] é unânime em seu compromisso com o uso de outros instrumentos heterodoxos", afirmou.
A declaração foi interpretada como um sinal de que o banco pode seguir o modelo do afrouxamento monetário adotado pelo Fed (BC dos EUA) no fim de 2012 e que causou polêmica, especialmente pelo seu impacto nas economias emergentes.
Analistas temem, porém, que seguir o modelo americano seria mais difícil e arriscado na Europa por causa do mercado de títulos fragmentado da região.