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Análise
Combate à inflação lembra os EUA dos anos 1970
Descontrole mudou com política de juros executada por Paul Volcker, que assumiu a presidência do Fed em 1979
Não importa de onde [a expectativa de inflação] venha -oferta ou demanda-, quem tem de zelar pelo controle dos preços é o BC
Nos últimos anos o Banco Central tem tido certa dificuldade em baixar as expectativas de inflação, sem falar na própria inflação realizada. Desde 2008, o IPCA tem se aproximado repetidamente do teto da meta, com exceção do ano recessivo de 2009.
Pior ainda, a cada ano que passa, os picos e pisos da inflação acumulada em 12 meses têm ficado mais altos.
Neste momento em que o IPCA novamente se encontra em aceleração, as dúvidas sobre como se comportará o BC voltaram a ganhar força.
Costuma-se dizer sobre o governo que há um apreço pelas políticas dos anos 70. Além das políticas industriais de então, parece que está sendo incorporada a discussão de combate à inflação da época. Não a discussão no Brasil, que era rudimentar. Mas a que acontecia nos EUA.
O Fed (Federal Reserve, banco central americano) de então tinha perdido a capacidade de controlar a inflação. Esta, segundo o ideário keynesiano da época, seria causada por questões estruturais, excessos salariais, falta de competitividade etc. Coincidentemente o discurso que existe hoje em Brasília.
A situação nos EUA mudou com a entrada de Paul Volcker como presidente do Fed, em 1979. Ele assumiu a responsabilidade de controlar as expectativas de inflação.
Não importa de onde ela venha -oferta ou demanda-, quem tem de zelar pelo controle dos preços é o BC, com sua política de juros.
No caso do Brasil atualmente, a apreciação do câmbio ou as desonerações fiscais não deveriam ser usadas como instrumentos alternativos à política monetária.
Neste momento de inflação e expectativas em alta, o BC talvez precise vestir uma camisa mais ortodoxa.
Há o risco de chegarmos a um ponto em que subir a Selic para 9% -a expectativa do mercado- não seja suficiente. Cabe ao BC mudar essa percepção. Para isso, precisará de sangue frio, ainda mais com os estímulos de demanda que estão por vir.
SERGIO VALE é economista-chefe da MB Associados.