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Análise
Arma incomoda israelenses, pois dificultaria bombardeios
IGOR GIELOW DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIAA estrela da semana no conturbado Oriente Médio é o sistema de defesa antiaérea S-300. Originalmente um projeto soviético do fim dos anos 1970, ele é considerado um dos modelos mais eficazes e modernos de sua categoria.
É uma arma de defesa, e não de ataque. Assim, quando Israel se diz ameaçado pela eventual inserção do S-300 na defesa de Bashar al-Assad na Síria, não se refere exatamente a riscos à população.
Nos últimos anos, a Força Aérea israelense bombardeia mais ou menos à vontade alvos sírios. Foi assim no ataque a uma central nuclear suspeita em 2007, é agora com os ataques a comboios ligados ao Hizbullah libanês.
Então, se há ameaça a Israel, é estratégica, não tática. Problema, na ótica israelense, seria se as tratativas para a entrega de mísseis balísticos Iskander, capazes inclusive de carregar armas atômicas (que a Síria não possui), tivessem prosperado entre Moscou e Damasco.
O que Tel Aviv quer é continuar a controlar o movimento de armas perto de suas fronteiras, e isso pode ser impedido com os S-300. Seus caças F-15 e F-16 ficariam vulneráveis aos mísseis, cujo alcance varia de 75 km a 400 km, dependendo da versão.
Isso também explica a grita norte-americana e europeia, que vai além de pressionar a Rússia a abandonar o antigo aliado e hospedeiro da única base naval de Moscou no Mediterrâneo.
A eventual criação de uma zona de exclusão aérea pelo Ocidente sobre a Síria, a exemplo do que ocorreu contra a Líbia de Muammar Gaddafi, seria de muito mais custosa implementação.
Mesmo sem os S-300, a Síria demonstrou força ao derrubar um F-4 de reconhecimento turco em junho de 2012. Damasco possui milhares de mísseis em sistemas efetivos russos, como o Pantsir-S1 e o Buk-M2.
Os modelos mais recentes do S-300, contudo, podem rastrear mais de 100 alvos e atacar 12 simultaneamente. Custam algo em torno de R$ 250 milhões a bateria.
Por fim, Israel quer manter a capacidade ofensiva superior contra o vizinho. Os S-300 mais modernos podem derrubar mísseis balísticos, funcionando como escudo. É o caso dos S-300VM, que a Venezuela recebeu em 2012. Com 200 km de alcance, são os mais poderosos do tipo na América do Sul.