Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Análise

Anticristianismo é uma das grandes marcas do trabalho

FABIO CYPRIANO CRÍTICO DA FOLHA

Ética e estética sempre estiveram juntas na obra de León Ferrari, e essa junção é um dos principais legados de sua carreira, mesmo que seus trabalhos políticos representem só uma parcela dela.

Em 2010, quando de sua exposição "O Alfabeto Enfurecido", na Fundação Iberê Camargo, recusou-se a participar da abertura. "Não gostaria de entrar em um museu para um artista que matou alguém", disse à Folha, referindo-se a Iberê Camargo (1914-1994), que matou um homem em 1980.

Em "O Alfabeto enfurecido", mostra organizada no Museu de Arte Moderna de Nova York, a questão central era o uso do texto em suas obras. Contudo, ao contrário dos artistas conceituais dos anos 1960 que se utilizavam da palavra enfatizando seu conteúdo, Ferrari empregava o texto para criar linhas e cores, subvertendo sua função.

Muitas das obras produzidas em sua fase paulista (1976 - 1991) tratam dessa inversão de significados, como ao empregar símbolos usados em arquitetura, nas séries de plantas heliográficas. Nelas, pessoas, automóveis ou representações de espaços domésticos e sociais criam arquiteturas impossíveis, sem uma lógica funcional, mas que apontam para a padronização da vida contemporânea. Obras que, como disse Ferrari, "sugerem algo sobre o que está ao nosso redor".

Essa preocupação com o contexto se torna enfática quando Ferrari aborda a religião. "Desde as origens, o cristianismo é uma religião que viola os direitos humanos", disse, no catálogo da 27a. Bienal de São Paulo, em 2006, da qual fez parte.

Nesse mesmo ano ele apresentou na Pinacoteca a mostra que causou polêmica na Argentina, envolvendo o hoje papa Francisco. A exposição trazia a série "Juízo Final", na qual o artista aplicou excrementos de aves sobre gravura de Michelangelo, ou ainda "Mimetismo", no qual sobrepunha uma imagem de Cristo camuflado sobre um tecido do mesmo padrão.

Assim, toda obra de Ferrari tem a marca da transgressão: seja no uso dos materiais, na inversão de significados e, especialmente, no anticristianismo.

Esses trabalhos, afinal, representam uma das vozes mais potentes da arte sobre a sociedade contemporânea.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página