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Análise
Organizado às pressas, pleito pode ter desfecho tão perigoso quanto um golpe
DO "FINANCIAL TIMES"A história africana recente traz poucas exceções à regra de que golpes militares acabam mal. Eleições, porém, também podem trazer riscos.
Assim é com o pleito de hoje no Mali, que arrisca agravar os problemas que levaram ao golpe militar no ano passado e à subsequente captura do norte do país por islâmicos e separatistas tuaregues.
Depois de impedirem em janeiro que a capital fosse invadida, os franceses e outros interessados esperam que a eleição assegure estabilidade para uma retirada militar. É provável que se decepcionem.
Para que eleições tragam paz, devem ser justas e ter crédito. Esta corre o risco de não ser nem uma nem outra.
A lista de eleitores não inclui milhares de pessoas deslocadas no norte e em países vizinhos. É pouco provável que elas reconheçam o vencedor de um processo que as ignorou. Enquanto isso, o nordeste do país segue, na prática, sob controle rebelde.
Tampouco foram resolvidas as tensões que levaram ao golpe. Pouco foi feito contra a corrupção e o favorecimento da elite e ainda falta uma política que atenda às reivindicações da minoria tuaregue.
Para os ocidentais, qualquer governo seria melhor do que o enfraquecido status quo transicional.
Porém, há muito mais em jogo que a legitimidade do Estado. As tropas francesas repeliram os islâmicos, mas os 7.200 km de fronteira do país seguem porosos para contrabandistas de armas e drogas, e grupos terroristas esperam a chance para ressurgir.
O Mali passou por rebeliões periódicas desde a independência, em 1960. É preciso mais que uma eleição para resolver esses problemas.
Mas um pleito malfeito pode gerar novas tensões. Os interesses do Mali e das potências seriam mais bem servidos com paciência e atenção.
Longe de dar às forças ocidentais e locais a saída que desejam, esta eleição precipitada pode obrigá-las a ficar mais tempo --e sob circunstâncias mais tensas.