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Berlusconi recua e dá sobrevida a líder italiano
Ex-premiê não consegue apoio contra Letta e é forçado a voltar atrás
Terceira economia da zona do euro, Itália precisaria de nova eleição, o que atrasaria programa de reformas
O governo de coalizão do primeiro-ministro italiano, Enrico Letta, obteve ontem aval do Parlamento para continuar no poder, o que foi classificado como uma das maiores derrotas da carreira política do ex-premiê Silvio Berlusconi.
Sem apoio de seu próprio partido, o PDL (Povo da Liberdade), para derrubar o governo, Berlusconi foi obrigado a um recuo constrangedor.
A legenda conservadora se dividiu quando cerca de 20 parlamentares anunciaram a intenção de apoiar Letta.
"Decidi, depois de um intrincado debate interno, votar a favor da confiança [ao governo]", anunciou Berlusconi no Parlamento.
A decisão foi recebida com um misto de surpresa e incredulidade entre os demais parlamentares.
No Senado, foram 235 votos a favor de Letta e 70 contra. Na Câmara, onde seu partido, o Democrata (PD), tem ampla maioria, Letta foi apoiado por um placar de 435 contra 162.
Foi Berlusconi que, na última semana, provocou a crise política ao pedir que os cinco ministros de seu partido se demitissem do governo de coalizão.
Ao forçar a queda do governo, o ex-premiê queria evitar a sua provável cassação no Senado por ter sido condenado, no início de agosto, a quatro anos de prisão por fraude fiscal. A decisão pode sair ainda nesta semana.
Um dos mais críticos à decisão do ex-premiê foi o secretário do PDL, Angelino Alfano, vice-primeiro-ministro e ministro do Interior no governo de coalizão, e que era considerado até então braço direito de Berlusconi.
Letta recusou as demissões dos cinco ministros ligados a Berlusconi.
Em seu discurso no Senado, antes da votação, ele advertiu sobre as dramáticas consequências para a Itália da queda do governo de coalizão, formado há cinco meses. O país, terceira maior economia da zona do euro, é um dos mais afetados pela crise no continente.
A queda do governo poderia atrasar a implementação de medidas de austeridade e reformas econômicas.
"A Itália corre um risco fatal, que depende de um sim ou não. Eu os convido a dar o exemplo", disse o premiê, antes de ter sobrevivido no cargo. O mercado reagiu bem à decisão do Parlamento, que evitou a necessidade de novas eleições na Itália. A Bolsa de Milão subiu 0,68%.
TEATRO
A inesperada atuação de Berlusconi --que teve lances teatrais, com o ex-premiê cobrindo o rosto com as mãos após o voto-- atraiu críticas.
"O que aconteceu hoje deveria ter como cenário um teatro, não um Parlamento", disse o deputado Federico D'Inca, do oposicionista Movimento Cinco Estrelas.
O partido de Letta atribuiu a mudança de Berlusconi ao seu desejo de esconder "uma derrota política". "Berlusconi perdeu, independente de ter apoiado o governo", disse o secretário do PD, Guglielmo Epifani.
"Ele perdeu, sobretudo, diante do país e da opinião pública italiana", completou.