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Análise

Acordo negociado agora é parecido com o costurado pelo Brasil há três anos

DAWISSON BELÉM LOPES ESPECIAL PARA A FOLHA

Há pouco mais de três anos, Brasil e Turquia chegaram a um surpreendente acordo diplomático com o Irã.

Ancara aceitava estocar o urânio levemente enriquecido de Teerã, que receberia, em troca, matéria-prima para um reator nuclear de uso civil. Brasil e Turquia serviriam como avalistas da boa vontade dos aiatolás.

À época, o entendimento foi rechaçado pelos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. A então secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, chegou a dizer que Brasil e Turquia estavam sendo enganados.

Agora, o atual secretário, John Kerry, defende o diálogo com Teerã.

Por que, afinal, a mudança de rumos?

Ora: é pouco crível que negociadores experientes como Celso Amorim (o chanceler brasileiro em 2010) e Ahmet Davutoglu (seu colega turco) pudessem costurar um arranjo com Teerã guiados pela ingenuidade --ainda mais sobre tema tão sensível.

Outro aspecto relevante é que, apesar de a representação internacional do Estado iraniano ter mudado recentemente --com a substituição de Ahmadinejad por Rowhani na Presidência--, o regime teocrático permanece.

A substituição de Clinton por Kerry também não significou ruptura com as linhas de política externa do governo Obama.

O novo posicionamento (não belicista) dos EUA em relação ao Irã, não muito distante daquela solução diplomática que Brasil e Turquia engendraram em 2010, pode sugerir algumas lições.

A mais importante: não se deve esperar tolerância das grandes potências com as ações políticas empreendidas por países intermediários (em termos militares e econômicos), como Brasil e Turquia.

A aquisição de credenciais para participar da gestão da ordem mundial não se dá de modo "natural". Emancipar-se e entrar para o "clube das potências" é um processo que envolve opções custosas --e não necessariamente pacíficas-- para o Estado.

Em regra, potências médias são recompensadas por se manterem coerentes com determinados compromissos previamente assumidos. Ou seja: a lógica da política internacional valoriza a acomodação ao status quo.

Assim, é razoável esperar por desencontros e divergências entre as políticas externas de uma nação já estabelecida --como os EUA-- e outra que, como o Brasil, busca ascender no "ranking" dos Estados soberanos.

Os atritos entre os dois países serão, presumivelmente, mais frequentes daqui por diante. E, em certo sentido, é até bom que isso aconteça.


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