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Gaúcho é um dos porta-vozes do impopular líder francês

Deputado, Eduardo Cypel tem a missão de defender o presidente Hollande

Na França desde os 10 anos, ele revela receber cartas com suástica e e-mails que o mandam voltar para o Brasil

RODRIGO VIZEU COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS

Único brasileiro com mandato de deputado na Assembleia francesa, Eduardo Rihan Cypel tem a tarefa árdua --e, nas suas palavras, intensa-- de defender um governo que bate sucessivos recordes de impopularidade e só é aprovado por cerca de um quarto dos franceses.

Desde março, o deputado em primeiro mandato foi nomeado um dos quatro porta-vozes do Partido Socialista, do presidente François Hollande. Foi escalado quando os socialistas precisavam se reforçar na votação da legalização do casamento homossexual, alvo de protestos.

Logo depois, teve de defender o governo no escândalo de um ministro que mantinha recursos no exterior. "Foi um batismo de fogo", diz à Folha em seu gabinete, em Paris.

A previsão de crescimento da economia neste ano é de 0,1%, e o desemprego está em 10,5%. "É uma experiência particular, bastante formadora e sem direito a erro. O mais difícil é convencer as pessoas a segurar a onda no momento que o país vive. Há dúvidas sobre se a crise econômica acabou totalmente e há um desemprego importante".

Na linha "herança maldita", ele argumenta que a esquerda está no poder há menos de um ano e meio, após anos de governo de direita.

Cypel, 37, foi eleito no ano passado para a Assembleia --que equivale à Câmara dos Deputados brasileira-- para representar um distrito de Seine-et-Marne, localidade próxima a Paris.

Gaúcho de Porto Alegre, ele chegou à França com a família aos dez anos, acompanhando o pai, que viera estudar. Acabaram ficando. Aos 22, adquiriu a cidadania francesa. Estudou filosofia e depois fez o Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po), conhecido por formar integrantes da elite política.

EXTREMA DIREITA

O deputado também elege como prioridade enfrentar o crescimento da extrema direita e seu principal partido, a FN (Frente Nacional).

Em agosto, ele foi alvo de um ataque do deputado europeu anti-imigração e líder da FN Bruno Gollnisch, que o chamou de "francês de data relativamente recente" e o comparou a "essas pessoas que você convida para sua casa e, uma vez confortáveis, querem trazer todo mundo".

"Foi um ataque violento, que machuca, insuportável, porque foi pessoal, e não político. Ao mesmo tempo, não surpreende, porque vem de líder acostumado a ataques xenófobos. Encontrou em mim um inimigo natural", afirma Cypel, que prepara processo contra o deputado.

Desde que ganhou os holofotes, o brasileiro também vê um aumento de ataques anônimos. Já recebeu cartas com suástica desenhada e e-mails que o mandam voltar para o Brasil. Um comentário na internet pergunta se ele não dá aulas de samba.

O gaúcho decidiu entrar na política depois que a FN, que ele define como "inimigo de qualquer cidadão republicano", foi ao segundo turno da eleição presidencial de 2002.

Em 2010, quando Nicolas Sarkozy quis endurecer com os imigrantes, Cypel criou um grupo de políticos naturalizados chamado "franceses sem distinção". Na campanha de Hollande, cuidou da área de imigração.

Apesar do histórico, ele diz que não escolheu o caminho da defesa dos imigrantes e do embate com a FN. "Não é minha obsessão, mas, quando tem um perigo de extrema direita, tem que haver uma reação forte. É meu dever estar sempre na primeira linha da defesa republicana."

Na semana passada, o tema da imigração voltou a seu colo, mas com jogo invertido. Ele teve de defender o governo de acusações de xenofobia após uma estudante de Kosovo ser deportada. Cypel defendeu atacando, afirmando que pode ainda haver "resquícios de sarkozysmo' na administração francesa".

Com português perfeito (em 35 minutos de conversa só falou francês em três momentos), ele diz se sentir plenamente tanto francês quanto brasileiro. E evita polemizar sobre as diferenças de benefícios entre parlamentares brasileiros e franceses.

Sem luxos, ele trabalha em um pequeno gabinete, que partilha, sem divisórias, com um assessor (outros dois ficam em sua base eleitoral).

Cypel não revela para quem torcerá caso a França se classifique para a Copa. "Vou fazer de tudo para que não se crie nenhum incidente diplomático. E é melhor que o Brasil não encontre a França, porque, desde que nasci, sempre que jogaram, nunca o Brasil ganhou."


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