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Análise crise venezuelana

Medidas econômicas têm claro objetivo político

Para analistas, decretos não combatem corrupção nem inflação, mas reforçam Maduro como herdeiro de Chávez

VIRGINIA LOPEZ DO "GUARDIAN", EM CARACAS

"O que vocês viram é pouco comparado com o que vamos fazer para defender o povo e seus direitos", disse o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, após receber da Assembleia Nacional o poder de governar por decreto --criar leis por conta própria, sem consultar o Parlamento.

Para Maduro, os poderes especiais lhe possibilitarão recuperar o controle da economia nacional, que está desabando, fato que o presidente atribui à "guerra econômica" que seus rivais estariam travando para desestabilizar seu governo antes da eleição municipal de 8 de dezembro.

Neste mês, o presidente mandou lojas em todo o país reduzirem seus preços em mais de 50% e anunciou que "burgueses parasitas" seriam presos por usura.

Críticos dizem que governar por decreto não ajudará a combater a corrupção nem a resolver os problemas responsáveis pela inflação crescente no país rico em petróleo --mas vai enfatizar a mensagem de Maduro de que ele seguirá fiel à linha política de seu mentor, Hugo Chávez.

"Ele está levando adiante o plano de instaurar um socialismo em estilo cubano, que Chávez deixou incompleto. Esse avanço implica uma economia de modelo estatal, com mais intervenções e a criação de novas instituições. A economia venezuelana tal como a conhecíamos está sendo destruída", disse a professora Margarita Lopez-Maia, socióloga da Universidade Central venezuelana.

Em discurso, Maduro disse que as medidas lhe permitirão limitar os lucros do varejo, fixar preços e controlar importações, além de outras mudanças não especificadas.

Mas muitos temem que a iniciativa do presidente afaste investidores e não consiga impedir outra onda de escassez de produtos em 2014.

Maduro afirmou que as empresas tomadas pela Guarda Nacional após o anúncio da semana passada têm estoque suficiente para o próximo ano. "É mentira que haverá escassez, é falso. Controlamos os depósitos dessas empresas e eles estão cheios."

O analista político Nicmer Evans disse que os poderes emergenciais são essenciais para o governo impedir que a economia saia do controle.

"Enfrentamos uma crise econômica real e profunda. O governo por decreto permite que o presidente faça em meses o que levaria anos para a Assembleia fazer", diz.

"Isso não está em nenhum dos parâmetros do socialismo. É um retorno ao capitalismo normal, porque não é normal que os venezuelanos paguem 1.000% acima do preço", argumenta Evans.

LEI CORRUPTA

A medida emergencial, conhecida como Lei Habilitante, foi aprovada depois de uma deputada oposicionista ter sido privada de seus direitos parlamentares e substituída por seu suplente, partidário de Maduro. Com isso, o presidente conseguiu os 99 votos necessários para garantir a maioria na Assembleia.

A iniciativa enfureceu muitos membros da oposição rachada, que estão chamando seus partidários a cerrar fileiras nas eleições municipais. "A Lei Habilitante é corrupta em sua origem e será corrupta na execução", disse o líder oposicionista Henrique Capriles. "Os venezuelanos precisam derrotar a corrupção nas eleições de dezembro."

O populismo econômico de Maduro mobilizou sua base política, avalia Evans, e o desafio do presidente será agora conservar esse apoio. "Se ele fracassar nisso e se não conseguir a adesão do comércio e da indústria, com certeza veremos queda nas importações, haverá falta de mais produtos e o castelo de cartas desabará por inteiro."


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