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Egito classifica Irmandade de terrorista
Governo interino culpa organização islamita por atentado a prédio policial; entidade nega participação no ataque
Integrantes podem ser presos só por fazer parte da Irmandade; medida reforça política de perseguição ao grupo
O governo interino do Egito declarou formalmente, ontem, que a Irmandade Muçulmana, maior força de oposição do país, é uma organização terrorista e, como tal, suas manifestações públicas estão proibidas em todo o território egípcio.
O anúncio foi feito pelo vice-premiê, Hossam Eissa, após longa deliberação, na sequência de um ataque terrorista na cidade de Mansura, no delta do Nilo.
"O Egito sofreu um crime terrível, cometido pela Irmandade Muçulmana. Isso é uma clara mensagem do grupo, que não conhece outra coisa que não a violência desde o início de sua existência", afirmou Eissa.
Na terça-feira, 16 pessoas foram mortas e dezenas foram feridas em uma ação contra um edifício da polícia.
O atentado foi reivindicado pelo grupo Ansar Beit al-Maqdis, a respeito do qual há poucas informações, inclusive se é de fato ligado à Irmandade. Mas a explosão de anteontem ecoou por todo o país, levando à indignação popular e às acusações, inclusive na mídia local, contra a organização islâmica.
A classificação da Irmandade como um grupo terrorista e a proibição de seus protestos contribuem para o estado de crescente conflito no Egito, enquanto o governo interino persiste com a política de empurrar a Irmandade de volta para a clandestinidade total.
Na prática, considerar a Irmandade como um grupo terrorista define as penas contra seus membros de acordo com o artigo 86 do Código Penal do Egito.
Isso significa que é possível prender um membro da organização apenas por fazer parte dela.
A agência estatal egípcia Mena noticiou, ontem, a prisão de 65 integrantes da Irmandade Muçulmana em diversas das regiões do país.
GOLPE
O embate entre Estado e islamitas tem persistido desde meados do ano, em especial com a deposição de Mohammed Mursi, em 3 de julho.
O conflito teve, nos últimos meses, episódios de violência, como o massacre de islamitas nos arredores da mesquita de Rabia al-Adawiya, em agosto
A liderança da Irmandade Muçulmana foi, por sua vez, gradualmente perseguida e detida, e há hoje poucos de seus representantes para liderar as manifestações.
Diversos de seus líderes, incluindo o presidente deposto Mursi, respondem a um rol de acusações que incluem incitar a morte de manifestantes da oposição.
A organização islamita --fundada em 1928 e com uma estrutura profunda de assistência social-- condenou o ataque de terça-feira e reiterou que as suas atividades não incluem, há décadas, a violência.
Segundo o porta-voz Islam Taufiq, a Irmandade seguirá com suas atividades, pois a medida do governo não tem base jurídica.