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Reino Unido prevê 'invasão' de romenos e búlgaros em 2014

A partir do dia 1º, cidadãos desses países não terão mais restrição para procurar emprego em solo britânico

Fluxo liberado por regra da União Europeia leva a reação de Cameron, que busca dificultar estada de imigrantes

LEANDRO COLON DE LONDRES

Todos os dias, entre 6h30 e 8h, imigrantes romenos madrugam na esquina da avenida Cricklewood Broadway com a Ashford Road, noroeste de Londres. Estão atrás de um "bico" na construção civil, a maioria como pedreiros.

Carros passam com discrição e carregam alguns deles. Outros ficam sem nada e planejam retornar no dia seguinte. É o caso de Florian Ghuian, 21, de Bacau, no norte da Romênia, e seu amigo que se identifica como John, 25, mas se nega a falar o sobrenome.

Ambos estão há dois anos em Londres. Quando conseguem algo, faturam até 50 libras no dia (R$ 185) --pode parecer um bom dinheiro, mas na maioria das vezes é o que tiram numa quinzena. "Por isso, preciso vir todo dia", diz Florian.

Ainda é escuro, a temperatura do inverno londrino beira os 3ºC, e o clima é tenso: nenhum deles deveria estar ali. A Folha é impedida de fotografá-los de frente porque temem ser identificados numa prática ilegal.

A Romênia entrou junto com a Bulgária na UE (União Europeia) em 2007, mas ambas ficaram numa "segunda divisão", com sete anos de espera para que seus cidadãos pudessem atravessar a fronteira de países como Reino Unido, França e Alemanha em busca de emprego.

Até agora, só podem ter livre trânsito como visitantes e para alguns trabalhos específicos. Mas muitos, como os da Cricklewood Broadway, aproveitaram a brecha e ficaram de vez para tentar ganhar dinheiro clandestinamente.

Na próxima quarta-feira, 1º de janeiro de 2014, ocorrerá uma mudança significativa na vida deles: cai a barreira legal que os impede de buscar emprego.

Ao mesmo tempo, uma crise bate à porta da UE: o governo britânico entrou em pânico e promete uma operação de guerra para controlar a chegada de mais europeus. O foco, é claro, são os que vêm da Romênia e da Bulgária, os países mais pobres do bloco.

O governo estima que, a partir do ano que vem, entre 30 mil e 70 mil romenos e búlgaros devem chegar anualmente ao Reino Unido. Hoje, diz, há um total de 141 mil dos dois países vivendo oficialmente em terras britânicas.

Pressionado por boa parte da população e pelo partido nacionalista Ukip, o premiê David Cameron quer dar uma resposta interna a um ano das eleições gerais de 2015.

Espera-se uma força-tarefa nos aeroportos britânicos nos primeiros dias de janeiro para barrar romenos e búlgaros suspeitos de querer apenas os benefícios assistenciais do governo, como na área de saúde e educação.

Cameron já anunciou medidas de restrições de ajuda para novos imigrantes da UE. Entre outras coisas, não poderão recorrer a auxílio-desemprego nos primeiros três meses em território britânico.

Depois, o benefício será concedido por no máximo seis meses, a não ser que a pessoa comprove ter um trabalho em vista. Além disso, o governo poderá deportar o europeu pego pedindo esmola ou dormindo na rua.

O premiê tem sido, porém, acusado pelos países vizinhos de discriminar Romênia e Bulgária e, ao mesmo tempo, ameaçar um dos princípios fundamentais da UE: o livre trânsito entre cidadãos.

Hoje, 14 milhões de europeus residem em países do bloco que não são os deles --algo em torno de 3% da população total da UE.

"Precisamos encarar o fato de que a livre circulação tornou-se um gatilho para grandes movimentos populacionais causados pelas enormes disparidades de renda", afirma Cameron.

Por um lado, ele tem razão: a média salarial da Bulgária, por exemplo, é um décimo da do Reino Unido.

Mas, se um dos principais objetivos do bloco é o "mercado único" (apesar de os britânicos estarem fora da zona do euro), o livre trânsito é fundamental para seu sucesso. Por isso, Alemanha e França, embora preocupados com romenos e búlgaros, não querem discutir esse tema.

CRÍTICAS

Há cinco anos em Londres, o romeno Paul Suciu, 30, tem liderado nas ruas os protestos contra a postura do governo britânico.

"A discriminação de romenos e búlgaros se legitima por partidos e governantes incapazes de lidar com as consequências da crise econômica de 2008", disse ele à Folha.

Com dois mestrados e ex-funcionário do Lloyds Bank, ele afirma que é preciso valorizar a contribuição dos membros do bloco, incluindo os romenos, para fortalecer a economia local.

Em entrevista ao jornal britânico "The Observer" no domingo passado, o presidente da Bulgária, Rosen Plevneliev, atacou Cameron: "Isolar o Reino Unido e danificar sua reputação não é a melhor forma de escrever a história (...) A população búlgara está questionando a democrática, tolerante e humana sociedade britânica".


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