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Vida após o corredor da morte

Japonês é solto 45 anos depois de ter recebido pena capital; ele agora terá novo julgamento

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O japonês Iwao Hakamada, 78, deixou ontem a prisão, em Tóquio,ostentando uma marca da qual ninguém se orgulharia: ele ficou 45 anos e 6 meses no corredor da morte.

É o detento a permanecer mais tempo esperando pela execução em todo mundo, de acordo com o livro Guinness de recordes, que incluiu o caso em seus registros em 2011.

Um tribunal japonês decidiu libertar Hakamada após concluir que investigadores forjaram evidências contra ele no julgamento que o levou a receber a pena de morte, em 11 de setembro de 1968.

Ele terá direito a um novo julgamento, cuja data ainda não foi definida.

Ex-boxeador profissional, Hakamada foi condenado após ser acusado de esfaquear até a morte o dono da fábrica em que trabalhava, a mulher dele e seus dois filhos --e, depois, incendiar a casa da família.

O crime ocorreu em junho de 1966 na província de Shizuoka, região central. No mesmo ano, ele foi detido. Durante o julgamento e em todos esses anos de prisão, Hakamada sempre se declarou inocente. Ele dizia ter sido coagido pela polícia, sob tortura, a assinar a confissão.

Ao decidir revisar o caso, o juiz responsável afirmou ser "injusto" mantê-lo na prisão, já que "a possibilidade de sua inocência alcançou um grau considerável".

O juiz se amparou em um exame feito na camisa que se acreditava ser do assassino. O DNA do sangue presente na roupa não era de Hakamada.

A TV pública NHK transmitiu ao vivo sua saída da prisão. Com o corpo curvado e semblante abatido, Hakamada não demonstrou nenhuma expressão de alegria.

Ele foi recebido por sua irmã, Hideko, e era esperado por dezenas de jornalistas.

Segundo a NHK, suspeita-se que ele sofra de algum tipo de demência. Desde 2010, Hakamada vinha se recusando a receber qualquer visita na cadeia.

A dúvida sobre a culpa de Hakamada sempre permeou o caso. Em 1980, a Suprema Corte japonesa confirmou a sentença de morte, após uma ação movida pela família.

Há sete anos, Norimichi Kumamoto, um dos três juízes que o condenaram, revelou ter sempre acreditado em sua inocência, mas não convencera seus colegas disso.

"O veredicto se baseou apenas na confissão, mas ele confessou depois de ser confinado e torturado em um pequeno quarto por 20 dias", disse Kumamoto, à época.

O magistrado afirmou também ter se arrependido de não ter ido a público antes para defender o réu.

Diversas organizações de defesa dos direitos humanos passaram a lutar por sua libertação, em uma causa que envolveu até o ator britânico Jeremy Irons.

A possibilidade de Hakamada finalmente ser inocentado é grande, se for levado em conta o histórico judicial japonês. Dos cinco detentos que estavam no corredor da morte e tiveram direito a novo julgamento, quatro foram absolvidos --um está sob análise.

Segundo a Anistia Internacional, no fim do ano passado havia 130 presos esperando serem executados no Japão, que utiliza a forca.

Em 2013, o governo japonês executou oito detentos, e outros cinco receberam a sentença capital.


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