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Alexandre Vidal Porto

Os haitianos estão chegando

Receber imigrantes em situação vulnerável exige planejamento abrangente e política pública responsável

Na escola em que eu estudei em São Paulo, éramos 5.000 alunos. Se estudassem conosco, os imigrantes haitianos que chegaram à cidade desde abril vindos do Acre corresponderiam à sétima parte dos meus colegas. Parece muita gente quando se pensa na lista de convidados para uma festa de aniversário. Para uma cidade do tamanho de São Paulo, porém, é só um sétimo dos alunos de um colégio.

Ao ver centenas de haitianos chegando nas últimas semanas, o governo paulista se alarmou. Queixou-se do governo do Acre. Queria ter recebido aviso de que aqueles estrangeiros, pobres e pretos, desembarcariam na cidade. Não sei qual teria sido a reação a imigrantes loiros e de olhos azuis. Mas São Paulo tem razão em querer saber: terá de dar apoio aos que vêm e aos que virão.

O Acre recebe, desde 2010, fluxo constante de imigrantes haitianos. Em 2013, o volume desse fluxo triplicou. Por Brasileia --de cerca de 21 mil habitantes--e Epitaciolândia --de cerca de 15 mil-- já passaram mais de 20 mil pessoas vindas do Haiti. No começo de abril, o governo acriano declarou emergência nas duas cidades. Alegou não ter condições de abrigar os imigrantes e pediu mais apoio federal.

Pela reação do governo do Acre, que fechou abrigos e facilitou a vinda dos imigrantes para São Paulo, apoio federal suficiente não veio. Virá para São Paulo?

Quando as autoridades federais resolveram conceder vistos humanitários aos haitianos que chegavam, esqueceram de calcular o tamanho da festa. Provavelmente, não lhes ocorreu que receber imigrantes em situação de vulnerabilidade exige planejamento abrangente e políticas públicas responsáveis. É como pôr filhos no mundo: tem de cuidar e prover até que possam se manter sozinhos. Do contrário, dá errado.

Nessa tarefa, coordenação entre os diferentes níveis de governo é imprescindível. Tal coordenação, porém, parece não ter acontecido entre Brasília e as autoridades estaduais e municipais envolvidas no caso. São Paulo e Acre não precisariam ter criado esse desgaste se o governo federal tivesse feito sua parte. Bastava conversar.

O governo poderá dizer que foi surpreendido, mas só é surpreendido quem não planeja bem.

Na semana passada, as autoridades federais suspenderam o limite para a concessão de vistos humanitários a cidadãos haitianos. Agora, teoricamente, todos os que quiserem poderão solicitá-los. O fluxo de imigrantes vai aumentar. Espera-se que as políticas públicas para lidar com a questão também.

Receber os haitianos é uma decisão acertada. Os que chegaram aqui têm coragem e determinação para buscar uma vida melhor. Isso tem valor. Estão dispostos a trabalhar. Enriquecem o Brasil. No entanto, para que seu potencial se realize, precisam de políticas e proteção específicas. A ideia é integrá-los, não marginalizá-los.

(Ah! E para quem quer que eles continuem no Acre, dois lembretes: 1) eles foram admitidos no BRASIL; 2) ninguém merece escapar do Haiti para acabar em um alojamento lotado em Epitaciolândia, certo?)


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