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Análise

Japão mostra ambição e vigor inéditos desde a Segunda Guerra

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA ESPECIAL PARA A FOLHA

A viagem do premiê Shinzo Abe ao Brasil, encerrada no sábado (2), ocorreu num contexto em que o Japão se lança na arena das relações internacionais com vigor e ambições como não fazia desde a Segunda Guerra.

Agressivo e audacioso na economia e na política domésticas, Abe --considerado por muitos o chefe de governo mais eficiente do mundo atual-- também não tem sido modesto na política externa.

Não deixa de ser significativo, embora não passe de mera coincidência, que Abe tenha chegado à América Latina poucos dias depois de o presidente chinês Xi Jinping ter partido do subcontinente.

Desde que assumiu o poder em dezembro de 2012, a China tem sido no exterior o principal adversário de Abe, equivalente à estagnação econômica no campo interno, a qual, ao menos por enquanto, ele vem conseguindo derrotar (após 15 anos, o país deixou de registrar deflação, por exemplo).

Os dois inimigos (China e paralisia econômica) de certo modo andam juntos. Em 2010, o Japão perdeu para a China a posição de segundo maior PIB do mundo, em função da sua própria letargia e do dinamismo da outra.

Com a mesma disposição com que atacou os problemas da economia, Abe começou a contrapor o Japão à China na área da vizinhança comum das duas potências.

Em poucos meses, foi a Mongólia, Vietnã, Tailândia e Indonésia com agenda comercial e política agressiva, com claro propósito de desafiar e se possível esvaziar a influência regional chinesa.

Em 18 meses de governo, esteve em 47 países; Xi, em 19 meses, visitou 23 nações; os dois premiês japoneses anteriores a Abe em 30 meses foram a apenas 18.

Mais do que meras viagens, ele tem feito propostas ousadas (em especial no campo do comércio), adotado retórica nacionalista, com frequência com tom belicoso, e até ensaiado propor a reforma do artigo 9 da Constituição japonesa, que proíbe o país de fazer guerra.

A opinião pública do Japão, que vem dando apoio a Abe, não reagiu bem a essa tentativa de mudar o caráter pacifista da Constituição, e Abe dá sinais de recuo, mas talvez não por muito tempo.

Mesmo na América Latina, é clara sua intenção de mirar a China. Fez uma cúpula com a comunidade de países do Caribe, região de pequena expressão econômica, mas onde seis reconhecem Taiwan.

Com o Brasil, que hospeda metade dos descendentes de japoneses fora do Japão, o objetivo é reanimar relações econômicas que foram muito intensas nas décadas de 60 e 70 e refrear a crescente presença da China, agora o maior parceiro comercial brasileiro.


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