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Análise

Herdeiros de Chávez tentam transformar seu legado em religião

FEDERICO FINCHELSTEIN ESPECIAL PARA A FOLHA

Passado mais de um ano da morte de Hugo Chávez, o populismo venezuelano tenta santificar seu mito apresentando-o como um Deus.

Esta semana, numa reunião da qual participou o presidente e sucessor de Chávez, Nicolás Maduro, foi lida a "oração do delegado", que roga ao falecido comandante: "Dá-nos hoje tua luz para que nos guie a cada dia, não nos deixa cair na tentação do capitalismo, mas livra-nos do mal da oligarquia, do delito do contrabando, porque nossa é a pátria, a paz e a vida. Pelos séculos dos séculos, amém. Viva Chávez." Terá o chavismo virado religião?

O mito sacralizante ajuda a explicar uma lógica populista que às vezes parece difícil de entender se é vista fora de seu aparato ideológico. O populismo é uma teologia política. Faz da linguagem política linguagem religiosa.

A passagem do Estado secular para um Estado em que predomina uma liderança de tipo religioso é uma característica da história do populismo na América Latina.

O coronel argentino Juan Perón foi o primeiro a inaugurar a série de argumentos sagrados para pensar a política de massas na democracia. Chávez atualizou e muitas vezes radicalizou esse legado continental. Depois de sua morte, Maduro começou a falar em "aparições" de Chávez no corpo de pássaros.

No populismo a aceitação popular do argumento do líder não se sustenta na lógica, mas na fé.

Mas o que acontece quando esse líder, esse Deus político, chega ao seu fim biológico? Ou seja, o que acontece quando o "eleito" morre?

Pode o mito tirá-lo da história profana e apresentá-lo como um herói mitológico ou até um Deus? A resposta varia em nosso continente.

Na Argentina, a morte de Néstor Kirchner fez crescer a mitologia política do populismo argentino, por meio da constante colocação em cena da figura espectral do ausente e também da de sua viúva, a presidente Cristina.

A identificação religiosa entre a figura fantasmagórica de Kirchner e a constante atualização de sua ausência, com repetições sacralizantes de seu nome, de sua figura e das vestimentas negras e enlutadas que sua viúva usava até pouco tempo atrás, foram peculiares do caso argentino.

Talvez o populismo argentino seja o único que tenha conseguido fazer passar, no imaginário de seus líderes e seguidores, as dimensões mágicas de um líder a outro em um período consecutivo.

Veremos em breve se os herdeiros de Chávez terão o mesmo sucesso nesse terreno, mais além dos esforços de Maduro para endeusar o ausente com orações, pássaros e metáforas religiosas.


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