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Entrevista - Estela de Carlotto

Renasci como uma planta que ganha vida após 37 anos

Líder das avós da praça de maio fala sobre a convivência com o neto que fora sequestrado pelos militares durante ditadura argentina

FELIPE GUTIERREZ DE BUENOS AIRES

Estela de Carlotto, a presidente da Associação das Avós da Praça de Maio e a mais famosa militante da causa das crianças sequestradas durante a ditadura argentina (1976-1983), descobriu seu neto, Guido de Carlotto, agora Ignacio Hurban, em agosto.

Ele foi tirado de sua mãe, Laura, logo após o nascimento, e entregue a um casal de peões por um fazendeiro que tinha ligações com os militares. O caso agora está sendo investigado pela Justiça, mas as Avós pressionam pela mudança da juíza encarregada.

Em entrevista, Estela diz que, depois de encontrar seu neto, vive um dos melhores momentos de sua vida.

Folha - A senhora estava com uma bronquite e se esqueceu dela ao encontrar seu neto?
Estela de Carlotto - Eu tenho 84 anos, só não teria problema de saúde se estivesse morta. Eu tive uma bronquite e não me recuperei. Mas com o encontro de um neto que eu buscava por 37 anos, eu me esqueci e renasci como uma planta que ganha vida. Agora voltou.

E vocês se encontram com frequência?
Ele vive a 400 quilômetros de distância. Nós fazemos o possível. Ele fala muito com os primos pela internet, ele conta aonde vai aos parentes, mas comigo não tanto porque eu não sei usar direito esse sistema [a internet], sou muito antiga, não sei como usar o Twitter. Mas ele tem uma personalidade bem humorada, é uma pessoa muito pura.

É o melhor momento da sua vida?
Inegavelmente. Houve a alegria de ter recuperado o meu marido em 1977 [sequestrado por militares, só foi solto após Estela pagar um resgate], ele havia sido muito torturado, mas era forte e nós nos apoiamos. Mas teve a tristeza da morte da minha filha Laura e a dor vai me acompanhar sempre, mas posso suportar com essas alegrias. Esse é um dos momentos mais felizes. Cada neto me ajudou, mas, bem, faltava um e agora minha família está completa! E agora, dentro da dor, é o melhor momento.

Ele está mais acostumado ao nome de Guido ou pede para ser chamado de Ignacio?
O nome que ele tem é Ignacio, mas ele decidiu, para sua identidade verdadeira, chamar-se Ignacio Guido Montoya Carlotto, sobrenomes do pai, da mãe e o nome que a mãe tinha escolhido. Ou seja, ele já assumiu que o seu documento será assim.

A juíza do caso, Servini de Cubria, disse que seguirá no caso, mas há críticas das Avós por ela ter vazado para a imprensa qual era a identidade pela qual o seu neto era conhecido. As Avós vão pressionar por uma mudança de juiz?
Foi ela que me chamou e me deu essa maravilhosa notícia, nós nos abraçamos e choramos juntas. Nós nos conhecemos há muitos anos e ela já restituiu outros netos. Mas a mudança de juiz é por outro tema. Presumia-se que meu neto havia nascido em Buenos Aires, no hospital militar. Mas, hoje, com novas informações, provou-se com total certeza que meu neto nasceu em uma prisão ao lado do centro de detenção clandestino onde minha filha estava. Ou seja, a jurisdição é da Província de Buenos Aires, e não da capital federal. Mas ela [Servini] insiste em manter-se na causa. Os superiores irão decidir essa situação.

E os pais adotivos de Guido, Clemente e Juana Hurban, tiveram papel na apropriação?
Eu não vou culpá-los, nem eximi-los de culpa. Eles precisam explicar à Justiça porque registraram, como filho próprio, uma criança que não sabiam de quem era. Acho que pela ignorância e medo de que o patrão os demitisse, também são vítimas. Isso a Justiça que precisa determinar. Mas eles o criaram sem nunca dizer sua verdadeira história.


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