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Avanço rebelde muda rotina de Damasco

Antes alheios à guerra civil, moradores da capital da Síria começam a ter dificuldades para se deslocar e trabalhar

Comércio ainda está aberto, mas preços de alimentos e combustível disparam; combates já podem ser ouvidos

Muzaffar Salman - 21.nov.2012/Reuters
Membro da Orquestra Sinfônica de Damasco caminha perto de quadro do ditador Assad
Membro da Orquestra Sinfônica de Damasco caminha perto de quadro do ditador Assad
SAMY ADGHIRNI ENVIADO ESPECIAL A DAMASCO

Quando a revolta síria estourou, em março de 2011, o empresário Jamil, 40, morador de Damasco, acompanhava pela TV os relatos dos combates pelo interior.

Há um ano, ele ouviu as primeiras explosões em áreas rurais ao redor da capital.

Na semana passada, um projétil do tamanho de uma garrafa de refrigerante caiu na varanda de sua casa.

Embalada por vitórias dos rebeldes, a guerra chegou às portas de Damasco, numa reviravolta que desnorteia o dia a dia dos moradores e fecha o cerco contra o ditador Bashar Assad.

Residente de uma área cristã majoritariamente pró-Assad, Jamil diz que o disparo partiu de uma periferia vizinha dominada por opositores. "Os rebeldes nos punem porque nos recusamos a apoiá-los", afirma, mostrando o local onde o projétil caiu.

Jamil aponta para o sul e o leste para mostrar que seu bairro está virtualmente cercado por áreas que abrigam militantes antirregime.

O avanço rebelde inclui a tomada de bases militares governistas, uma delas ontem.

Opositores recém unidos em uma frente que facilitará o recebimento de armas e dinheiro de seus apoiadores (Turquia, Qatar, Arábia Saudita, França e Reino Unido) já anunciam a "batalha final" destinada a caçar Assad em seu próprio palácio.

A aproximação de combatentes infiltrados por islamitas ligados à Al Qaeda aterroriza minorias tradicionalmente leais ao regime -cristãos, drusos, xiitas e alauítas, facção do clã Assad. Mas o conflito atinge todos os moradores da capital.

Mesmo mantidos à distância do centro por bombardeios contra suas posições, os rebeldes são responsabilizados por atentados com carros bombas que deixaram dezenas de mortos no coração da capital. O ataque mais recente, há duas semanas, foi o primeiro a atingir o elegante bairro de Abu Rumaneh.

Contra novos ataques, o governo fechou ruas e abarrotou a capital de postos de controle militar, gerando congestionamentos que acirram o nervosismo ambiente.

Constantemente alvejados, prédios oficiais estão cercados por barreiras metálicas e sacos de areia. Funcionários públicos vivem em pânico.

"Se eu for pego pelos rebeldes serei executado pelo simples fato de receber salário do Estado", diz um servidor que preferiu não ser identificado.

Acuado, o governo espalhou a shabiha (paramilitares responsabilizados pelas maiores atrocidades do regime) pela cidade, inclusive nos hotéis com estrangeiros.

Autoridades também incentivaram comitês populares, grupos de moradores armados que assumiram a segurança de seus bairros.

A todo instante ouve-se o barulho de explosões e tiros vindos das redondezas de Damasco. Na tarde de ontem, caças MiG de fabricação russa sobrevoavam o centro em direção a alvos rebeldes. À noite intensificou-se o som de armas leves, indicando combates nas ruas da capital.

ECONOMIA EM RUÍNAS

O conflito devastou a economia ao solapar exportações de petróleo e zerar a entrada de turistas estrangeiros. Agravada por sanções ocidentais, a crise gerou disparada nos preços, principalmente comida e combustível.

A maioria das lojas e restaurantes segue aberta, apesar de desertados pelos clientes. "Há alguns meses não haveria um lugar sequer para sentar", diz o gerente da sorveteria mais tradicional da capital, olhando para dezenas de cadeiras vazias.

Escolas e universidades seguem operando, e a cidade ainda tem algumas festas e casamentos, mas prevalece um clima de ansiosa espera.

"Quanto mais o conflito se aproxima do centro, mais perto está o fim disso tudo", prevê a estudante Wafa, 23.

A sensação de desfecho iminente é compartilhada pelo oposicionista Ahmad, 25, também estudante. "Assad quer destruir o país antes de ir embora com dignidade, mas vamos acabar com ele."

Discorda o empresário Walid, 56. "O governo ainda está pegando leve para poupar civis. Mas se precisar, Assad irá usar força total para acabar com os rebeldes."


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