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Hamas completa 25 anos e consolida "Estado" em Gaza

Na fundação, organização islâmica era vista como opção moderada ao Fatah

Grupo radical celebra sua força e o trunfo de ter rachado isolamento imposto pelo bloqueio dos israelenses a Gaza

MARCELO NINIO ENVIADO ESPECIAL A GAZA

A modesta casa com teto de zinco, espremida num beco do bairro de Sabra, na cidade de Gaza, passaria despercebida não fosse a pequena placa: "Aqui viveu o mártir, Ahmed Yassin".

Convertida em museu, a casa é o berço do grupo radical Hamas, fundado por Yassin em 1987, e virou ícone do quase-Estado gerido pelos islamitas desde que tomaram o controle de Gaza, em 2007.

Exibida numa vitrine, por onde costumam passar excursões de escolas, está a cadeira de rodas retorcida em que o xeque paraplégico estava ao ser morto por um míssil israelense, em 2004.

Depois de sair cantando vitória do segundo grande confronto com Israel em dois anos, o Hamas completa 25 anos de uma trajetória sangrenta, que o levou do pequeno centro beneficente criado por Yassin a governo.

Escondidos em bunkers durante a ofensiva, seus líderes não perderam nenhuma chance de colher os louros da "vitória", apesar dos 160 mortos e dos danos causados.

Milhares de pessoas saudaram ontem o líder do grupo, Khaled Meshal. Sua visita a Gaza, após 45 anos no exílio, foi o ponto alto da festa pelo aniversário. "A Palestina é nossa do rio ao mar, do sul ao norte. Não cederemos nem uma polegada", disse.

O governo israelense debocha das comemorações, afirmando que elas ocultam o duro golpe sofrido pelo Hamas em seu poderio militar.

Politicamente, porém, o Hamas chega aos 25 anos mais forte do que nunca, com o governo consolidado em Gaza e o trunfo de ter rachado o isolamento imposto pelo bloqueio israelense.

Uma caravana de chanceleres árabes visitou Gaza durante a ofensiva, aproveitando a abertura da fronteira com o Egito -aliado natural do Hamas desde a revolução que levou a Irmandade Muçulmana ao poder.

"A mudança é dramática", afirmou à Folha um dos líderes do grupo, Mahmoud al-Zahar, falando da queda do ditador egípcio Hosni Mubarak, inimigo declarado da Irmandade e de seus discípulos, como o Hamas.

Zahar foi um dos fundadores do grupo, que teve origem no Centro Islâmico criado por Yassin nos anos 70. Por quase 20 anos, o centro dedicou-se a ações sociais e ao ensino do islã e chegou a receber fundos de Israel, que na época via em Yassin uma alternativa moderada ao nacionalismo armado de Iasser Arafat.

No livro "Conhecer o Hamas", o jornalista israelense Shlomi Eldar conta em detalhes a história do grupo e os erros cometidos por Israel.

"Um oficial israelense me disse: o Hamas foi construído pelos fracassos de Israel", contou Eldar à Folha.

Com 20 anos de experiência em Gaza, Eldar diz que o Hamas começou com ambições modestas. Mas o discurso radical que prega o fim de Israel já estava em sua carta fundadora, de 1987, que permanece intocada até hoje.

Era o começo da primeira intifada (revolta palestina), lembra Eldar, e o Hamas carregou no ódio para afastar suspeitas de que colaborava com o inimigo por ter recebido dinheiro de Israel.

Sem deixar de lado a ação beneficente, o grupo logo criou um braço militar que cometeria os piores atentados terroristas contra Israel, com centenas de mortos.

A vitória na eleição de 2006 surpreendeu os próprios líderes do Hamas. Já no ano seguinte, porém, eles expulsaram o Fatah após um violento golpe e assumiram o controle de Gaza, passando a driblar o bloqueio econômico com uma vasta rede de túneis na fronteira egípcia.

Para os opositores, o cerco é duplo. O Hamas não tolera dissidências e impôs um regime cada vez mais islâmico.

A origem humilde contrasta com a opulência que alguns membros passaram a exibir nos últimos anos, com carrões último tipo e mansões que destoam na pobreza de Gaza. "Dias antes da ofensiva israelense houve um raro protesto contra o Hamas", diz Khalil Shahin, ativista de direitos humanos. "A guerra salvou o seu prestígio."


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