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Libaneses lucram com refugiados sírios

Proprietários de terras vendem ilegalmente espaço para fugitivos da guerra no país vizinho armarem suas tendas

Acordo é verbal com os fazendeiros, que chegam a cobrar até US$ 700 por barracas de aproximadamente 8 m²

CAROLINA MONTENEGRO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BEIRUTE

Em meio à crise na Síria, libaneses lucram arrendando terras para refugiados no país vizinho.

Com o conflito se estendendo por mais de 20 meses, o Líbano já abriga mais de 150 mil sírios, segundo a ONU. O governo libanês, porém, resiste em construir campos, ao contrário do que acontece na Turquia e na Jordânia.

O resultado é a falta generalizada de abrigos. Famílias improvisam moradia em escolas, apartamentos alugados, garagens e tendas no vale do Bekaa -região montanhosa no Líbano que fica no meio do caminho entre Beirute e a fronteira síria.

Em Taalabaya, centenas de tendas puderam ser avistadas pela reportagem da Folha. Segundo a ONG Caritas, que presta assistência aos refugiados sírios, mais de 200 famílias estão acampadas ali.

O número real, porém, é estimado em mais do que o dobro. Grande parte dos sírios prefere não se registrar como refugiada com receio de sofrer perseguição.

Os proprietários de terra cobram de US$ 300 a US$ 700 (de R$ 630 a R$ 1.470) por tenda, que tem cerca de quatro metros por dois metros.

"Os fazendeiros locais estão erguendo as tendas como um negócio, vendendo-as ou cobrando aluguel mensal", explicou Maria Abou Diwan, assistente social responsável pelo centro da ONG Caritas em Taalabaya.

Não há eletricidade, esgoto, asfalto ou água potável nos campos improvisados. "Não temos nada", diz uma menina síria que não tem mais do que dez anos de idade.

Ela aponta a tenda onde mora sua família. Dentro, apenas colchões e alguns carpetes. No espaço estreito dormem sete pessoas.

Os fazendeiros vendem ou arrendam as terras de forma irregular, baseados em acordos verbais. Não há assinatura de contrato ou troca alguma de documentos ou títulos.

Abu Majed, 25, de Homs, conseguiu pechinchar. "Paguei US$ 100 pela minha tenda, com um terreno para plantar também. Mas só porque tive ajuda de uma organização de caridade muçulmana que pagou os US$ 500 restantes", afirmou.

O esquema é alimentado pela ausência do Estado libanês quando o assunto é abrigo para os refugiados.

O temor do governo é que construir moradias incentive a estadia prolongada dos sírios -e, com isso, ganhem influência política ou alterem o equilíbrio sectário no país. A maioria dos sírios no Líbano é sunita, e isso incomoda xiitas e cristãos.

O Líbano até hoje abriga mais de 400 mil refugiados palestinos, grande parte em campos, em Beirute, no norte ou no sul do país. Ali não há tendas -são amontoados de construções irregulares em situação precária.

Em recente coletiva de imprensa, o coordenador humanitário da ONU no Líbano, Robert Watkins, declarou que a organização trabalha com o governo libanês para assistir os refugiados, mas que construir novos campos no país não era "recomendável no momento".

"Campos criam mais problemas do que resolvem e são caros para ser mantidos",disse.

A palavra final, porém, é do governo libanês, que está rachado entre o Hizbollah, pró-Síria, e sunitas, contra o regime de Bashar Assad.


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