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Procurador vai apurar 'mensalão espanhol'
Há indícios suficientes para investigação e premiê Mariano Rajoy poderá ser interrogado, diz chefe do Ministério Público
Vice-premiê afirma que Rajoy, acusado de receber recursos não contabilizados, falará sobre o assunto hoje
O procurador-geral da Espanha, Eduardo Torres-Dulce, disse que há indícios suficientes para mandar investigar o chamado "mensalão espanhol" e que, se necessário, o premiê do país, Mariano Rajoy, será interrogado.
O escândalo eclodiu na quinta, quando o jornal espanhol "El País" publicou reportagem sobre "documentos secretos" do Partido Popular, a sigla do premiê. Segundo o diário, eles eram mantidos por Luis Bárcenas, tesoureiro do PP por 20 anos.
Os cadernos manuscritos, fora da contabilidade oficial do partido, indicam doações de empresários -principalmente do setor da construção- e pagamentos à cúpula do PP, incluindo Rajoy.
Bárcenas, que renunciou ao cargo de tesoureiro da legenda em 2009, foi acusado recentemente de ter US$ 30 milhões em conta na Suíça.
Torres-Dulce, mais alta autoridade do Ministério Público espanhol, disse que decidirá nos próximos dias se vai abrir investigação sobre o caso ou incorporá-la às apurações do caso Gürtel, outro escândalo envolvendo empresários e políticos do PP, que veio à tona quatro anos atrás.
"Todos que possam acrescentar algo à investigação e ao esclarecimento da verdade serão chamados", disse o procurador-geral, que prometeu respeitar "todas as garantias constitucionais".
Até ontem, o premiê não havia aparecido em público para falar das acusações -coube à vice-premiê, Soraya Santamaría, enfrentar os repórteres na entrevista que se seguiu à reunião ministerial que o governo faz às sextas.
Santamaría não respondeu às perguntas sobre o caso, alegando tratar-se de questão partidária, mas afirmou que Rajoy falará sobre o assunto hoje, logo depois da reunião extraordinária convocada pela Executiva do PP.
"Trabalho com Mariano Rajoy há 12 anos e o que presenciei nesse tempo todo foi um comportamento sempre exemplar", declarou a vice.
O PP, por sua vez, nega ter ligação com os documentos. "Nós não temos absolutamente nada a esconder", disse a secretária-geral da sigla, María Dolores de Cospedal.
Para analistas, há risco de que a denúncia faça o país -que já vive grave crise econômica, com desemprego entre os maiores da Europa e impopulares cortes de gastos- cair numa crise política que pode custar o cargo a Rajoy.
O ministro da Economia, Luis de Guindos, negou que o caso possa afetar a confiança dos investidores na Espanha. A Bolsa de Madri caiu 1,59%, mas, segundo economistas, o recuo -o quinto consecutivo- não está relacionado às denúncias.