Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Cardeais começam a decidir futuro da igreja

Além de convocar conclave, colégio dos cardeais deve fazer primeira avaliação sobre atual crise da instituição

Problema para que se extraia um balanço abrangente é que ao menos três 'pecadores' estarão nos debates

CLÓVIS ROSSI ENVIADO ESPECIAL A ROMA

A Igreja Católica inicia hoje a Congregação Geral, uma espécie de convenção extraordinária do Colégio de Cardeais, na qual passará em revista a crise que até o papa Bento 16 acabou por admitir nos 17 dias que se seguiram ao anúncio de sua renúncia.

Se a barca de Pedro (o papado) enfrentou nos últimos anos "águas agitadas", como disse o papa anteontem, e "raios e nuvens", como afirmou ontem, a partir de hoje ela entra em "águas nunca antes navegadas", segundo Robert Moynihan, um dos raros vaticanistas realmente bem informados.

De fato, a igreja jamais conviveu com dois papas vivos: um, titular, o outro, emérito.

"Os dois vão se falar? Raramente? Frequentemente? Diariamente? O novo papa pedirá conselhos ao velho?", pergunta Moynihan.

Não há respostas para essas dúvidas, entre tantas outras.

De todo modo, a Congregação Geral abre um período em que a igreja, "forçada por sua própria crise de identidade, deve explicar-se e confessar seus próprios 'pecados'; fazer-se aceitar, e convencer a opinião pública de que está se reexaminando", escreve Massimo Franco, especialista em Vaticano do jornal "Corriere della Sera".

'PECADORES'

O problema para extrair um balanço realmente abrangente da reunião dos cardeais é que ao menos três "pecadores" participarão dos debates: os cardeais Roger Mahony (EUA), Sean Brady (Irlanda) e Godfried Danneels (Bélgica), todos acusados de encobrir casos de pedofilia envolvendo religiosos.

Os escândalos sexuais serão apenas um dos temas quentes na agenda dos cardeais. Há ainda escândalos financeiros e o vazamento de documentos do papa.

A Congregação Geral terá também que debater assuntos que dizem respeito ao cotidiano de católicos, como o veto à camisinha, às células-troncos, ao celibato clerical, o papel da mulher na igreja e o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

É óbvio que os cardeais não poderão deixar de falar da eleição do sucessor de Bento 16, tarefa para a qual, afinal, foram chamados a Roma e da qual a Congregação Geral é uma espécie de prévia.

Os vaticanistas acreditam que o cardeal que melhor representar o consenso em torno dos temas na pauta acabará sendo o eleito.

ORTODOXIA

Acreditam igualmente que o consenso não se afastará muito da ortodoxia. Afinal, escreve Sandro Magister, especialista em igreja da revista "L'Espresso": "Na Itália, na Europa e na América do Norte, a igreja atravessa momentos difíceis, de declínio geral, (entretanto) essa área continua, de todo modo, a deter a liderança teológica e cultural da igreja".

Nessas áreas, a igreja é essencialmente conservadora.

Reforça essa avaliação o fato de que o governo da igreja passou ontem à noite à Câmara Apostólica, chefiada pelo cardeal-camerlengo, que é Tarcisio Bertone, até ontem secretário de Estado, segundo homem na hierarquia do Vaticano.

Outro conservador é o decano do Colégio de Cardeais, Angelo Sodano, que compartilha o governo da igreja até a eleição do novo papa (cuida dos assuntos correntes).

'NUNCA NAVEGADAS'

Em todo caso, esses rótulos e avaliações pertencem à era Joseph Ratzinger.

Sua renúncia, escreve ainda o especialista do "Corriere della Sera", "fechou não só o seu pontificado, mas uma temporada plurissecular".

Volta-se, portanto, à ideia de "águas nunca antes navegadas".


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página