Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Soldado admite vazamento para WikiLeaks
Em depoimento militar, Bradley Manning assume ter entregado ao site centenas de milhares de telegramas sigilosos
Ex-analista pode ser condenado a 20 anos pelo que já confessou; preso desde 2010, ele diz sofrer maus-tratos
O recruta Bradley Manning, 25, admitiu ontem a um tribunal militar que entregou centenas de milhares de telegramas militares e diplomáticos sigilosos ao site WikiLeaks, que os expôs na internet em 2010 e causou constrangimento ao governo dos EUA.
Ao declarar-se culpado de dez delitos menores referentes à má administração de material sigiloso, ele afirmou que queria "fazer do mundo um lugar melhor" e detonar um debate sobre diplomacia -o que acabou conseguindo.
"Acreditei que se o público em geral, sobretudo o americano, tivesse acesso à informação, isso poderia dar início a um debate doméstico sobre o papel dos militares e da política externa", disse em depoimento lido ao tribunal.
"Ninguém na organização WikiLeaks pressionou pelo envio de informações. Assumo responsabilidade total."
Pelos delitos que confessou, o ex-analista militar no Iraque pode ser condenado a 20 anos de prisão. O processo, porém, inclui acusações mais graves, como espionagem e auxílio ao inimigo.
Segundo Manning, ele primeiro tentou contatar o jornal "Washington Post" em janeiro de 2010 para publicar o material, mas avaliou que o repórter contatado estava desinteressado. Depois, deixou uma mensagem de voz ao ombudsman do "New York Times", que não o procurou.
Acabou optando pelo WikiLeaks, um site de ativismo que já divulgara filmagens sigilosas de operações americanas no Iraque, e enviou os primeiros arquivos do café de uma livraria em Maryland.
Manning, um rapaz franzino para o padrão militar e que aparenta menos idade, foi preso em maio de 2010 e acusa seus detentores de mantê-lo confinado em solitária, vítima de maus-tratos. Está sendo julgado há um ano por corte marcial em Fort Meade, no Estado de Maryland.
Seu caso atraiu a atenção da mídia nacional e internacional, e seu nome passou a ser celebrado por ativistas como uma espécie de herói da liberdade de informação.
Embora os telegramas diplomáticos que entregou ao WikiLeaks não tenham revelado segredos de Estado, o vazamento é tratado como o maior da história dos EUA e deixou diplomatas americanos -e do mundo todo- em saias justas ante a revelação de procedimentos e conversas em linguagem franca.
O WikiLeaks começou a publicar os documentos em fevereiro de 2010, primeiro em parceria com jornais de vários países, incluindo a Folha.
O site, que teve suas finanças estranguladas por medidas americanas, é coordenado por Julian Assange, hoje asilado pelo Equador para escapar de um mandado de prisão sueco referente a acusações de agressão sexual que emergiram quando o escândalo do vazamento crescia.